A infecção por rotavírus é uma das principais causas de doença diarreica aguda, principalmente em crianças menores de 5 anos de idade. Também chamada de rotavirose, no geral causa um quadro leve e autolimitado, mas, se não tratado, pode evoluir com complicações e quadros graves. Causam, aproximadamente, 11 milhões de episódios por ano.
Neste post iremos abordar a infecção por rotavírus, seu quadro clínico, como manejar e a prevenção.
O que é a infecção por rotavírus?
O rotavírus é um vírus de RNA da família Reoviridae, do gênero Rotavirus. No ser humano, causa uma infecção caracterizada por um quadro de gastroenterite, com diarreia aguda. Geralmente, esse quadro é autolimitado, sendo mais prevalente em crianças menores de 5 anos. Recém-nascidos, provavelmente devido a anticorpos maternos, não costumam ter quadros graves.
A transmissão do rotavírus ocorre pela via fecal-oral, seja por contato com pessoa infectada, objeto contaminado, por ingestão de água ou alimento contaminado. Além disso, o vírus é presente em grande quantidade nas fezes das crianças infectadas.
Fisiopatologia
Os rotavírus são classificados em 7 grupos de A a G. Dentre esses, apenas os grupos A, B e C infectam o homem, sendo o tipo A o mais comumente associado. Em cada grupo, ainda, existem diferentes sorotipos, já são conhecidos cerca de 14 sorotipos G (glicoproteína) e 9 sorotipos P (sensíveis a protease). Dentre estes, 5 sorotipos são os mais comuns no planeta, são eles: G1P8, G2P4, G3P8, G4P8 e G9P8.
Ao entrar em contato com o patógeno, a incubação ocorre em cerca de 2 dias. O principal sítio de replicação é o intestino delgado, principalmente nas células epiteliais do jejuno. A extensa lesão do epitélio desencadeia um fenômeno de má-absorção, gerando uma diarreia osmótica. Quanto à transmissibilidade, a excreção viral máxima ocorre no terceiro e quarto dia de sintomas.
Sinais e sintomas da infecção por rotavírus
Os sinais e sintomas clássicos da rotavirose, principalmente entre os 6 meses a 2 anos de idade, são vômitos repentinos, diarreia aquosa e febre alta. Nas fases mais graves, pode gerar quadro de desidratação, febre e até mesmo levar ao óbito.
A diarreia é a principal manifestação. É de aspecto aquoso, as fezes são amareladas, geralmente sem muco. A quantidade de evacuações diárias varia de 8 para mais.
Como funciona o diagnóstico?
O diagnóstico do rotavírus é feito a partir da coleta de amostra de fezes, em torno de 5 a 10 ml, sendo armazenada em pote e levado a laboratório. Testes de imunoensaios (ELISA), teste de látex e eletroforese são técnicas utilizadas e de fácil acesso no diagnóstico. Os melhores dias para realização do diagnóstico é de até 4 dias após início de sintomas.
Para diagnóstico diferencial, como parasitoses intestinais e infecções como salmonelose ou outras infecções bacterianas, também são coletadas amostras para análise bacteriológica e parasitológica.
Formas de tratamento para infecção por rotavírus
Como a infecção por rotavírus normalmente é autolimitada, o paciente é tratado apenas com suporte, por meio da reposição de líquidos e minerais, para prevenir ou corrigir desidratação causada pela diarreia. Além disso, é feito um manejo nutricional. Antidiarreicos, antimicrobianos e antieméticos não são recomendados.
Para a desidratação, o Ministério da Saúde criou um plano de abordagem, de acordo com a gravidade, dividido em plano A, B e C. Para avaliação do estado de hidratação, pode ser utilizada a tabela abaixo:
Após estabelecido o diagnóstico e estado de hidratação, deve então ser seguido o plano terapêutico.
Plano A
Para as crianças sem desidratação, o plano A deve ser aplicado, de tratamento domiciliar. Deve ser oferecido mais líquido que o habitual para prevenir a desidratação, devem ingeridos líquidos caseiros (chá, suco, sopa etc.) após as evacuações, sendo de 50ml a 100ml em menores de 1 ano; de 100 a 200ml em crianças de 1 a 10 anos e a quantidade que o paciente aceitar em maiores de 10 anos.
A alimentação habitual deve ser mantida e é preciso ficar atento aos sinais de alerta ou piora. Os sinais de alerta incluem: piora na diarreia, vômitos repetidos, muita sede, recusa de alimentos, sangue nas fezes, diminuição da diurese. Caso esses sinais apareçam ou não ocorra melhora em 2 dias, deve-se procurar novamente a unidade de saúde. Além disso, recomenda-se a administração de zinco uma vez por dia, por 10 a 14 dias (10mg/dia até 6 meses e 20mg/dia a partir dos 6 meses).
Plano B
O plano B deve ser realizado naqueles com desidratação não grave. É administrado soro de reidratação oral (SRO) sob supervisão médica, com jejum durante o período de terapia (exceção do aleitamento). Inicialmente, administra-se de 20 a 100 ml/kg de SRO durante 2 a 4 horas.
A quantidade de SRO dependerá da sede do paciente, devendo ser administrado continuamente até que os sinais desapareçam. Avalia-se o indivíduo durante a terapia, se houver melhora segue com plano A. Se não apresentar melhora ou se apresentar piora, deve-se seguir com o plano C.
Plano C
O plano C é para aqueles indivíduos com desidratação grave. Neles, é feita reidratação por via parental, com paciente mantido no serviço de saúde. Primeiro, realiza-se a fase rápida (de expansão), seguida pela fase de manutenção e reposição. Interromper apenas quando o paciente puder ingerir soro de reidratação oral em grande quantidade para se manter hidratado.
Prevenção
A prevenção da infecção por rotavírus pode ser feita por meio da vacinação e por meio de práticas de higiene e consumo adequado de alimentos, que inclui lavar sempre as mãos antes e depois de utilizar o banheiro, trocar fraldas, manipular alimentos, amamentar e tocar em animais.
Para prevenir o patógeno também é necessário lavar e desinfetar superfícies e equipamentos, proteger área da cozinha de animais, guardar a água tratada no recipiente adequado, guardar lixo de forma adequada e manter o aleitamento materno.
Vacinação
O esquema de vacinação é a administração da vacina atenuada para rotavírus humano G1P1(8) em crianças menores de 6 meses. São dadas 2 doses por via oral, sendo a primeira aos 2 meses e a segunda aos 4 meses, com intervalo mínimo de 30 dias entre as doses.
Conclusão
A infecção por rotavírus é comum na infância, que leva a um quadro de diarreia aguda, potencialmente fatal se não tratado devidamente. Mais comum em crianças menores de 5 anos, o quadro típico é de diarreia aquosa, febre e vômitos repetidos.
O diagnóstico pode ser feito pelo método ELISA na análise das fezes do paciente e o tratamento é de prevenção e correção de desidratação. Para prevenção da doença, existe a vacina contra o rotavírus, dada em 2 doses via oral em crianças menores de 6 meses de idade.
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FONTE:
- Rotavírus. Ministério da Saúde.
- Diarreia aguda: diagnóstico e tratamento – Guia Prático de Atualização. Sociedade Brasileira de Pediatria. N° 1, Março de 2017.
- BORGES, William; et. al. Rotavírus e as perspectivas para seu controle por terapia vacinal. Revista Interdisciplinar de Estudos Experimentais, v. 1, n. 2, p. 75 - 81, 2009.