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Publicado em
23/4/24

Infarto agudo do miocárdio: fisiopatologia, causas e sintomas

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Infarto agudo do miocárdio: fisiopatologia, causas e sintomas

O Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) é uma condição extremamente comum, sendo a maior causa de mortes no país. Estima-se que, no Brasil, ocorram de 300 mil a 400 mil casos anuais de infarto e que a cada 5 ou 7 casos, ocorre um óbito. Para isso, é necessário um manejo rápido e constante atualização acerca dos tratamentos.

Neste post iremos abordar o que é o infarto agudo do miocárdio, sua fisiopatologia, apresentação clínica e diagnóstico!

O que é o infarto agudo do miocárdio?

O infarto agudo do miocárdio (IAM) é uma condição caracterizada por elevação aguda dos marcadores de lesão miocárdica (troponina, principalmente), indicando necrose miocárdica, associado a sinais clínicos (dor torácica ou equivalentes anginosos) ou eletrocardiográficos (alterações dinâmicas de ST ou novas ondas Q) de isquemia. Faz parte das síndromes coronarianas agudas, juntamente com a angina instável, indicando diminuição no suprimento sanguíneo do coração.

Pode ser dividido em IAM com supradesnivelamento de segmento ST (IAMCSST) e IAM sem supradesnivelamento de segmento de ST (IAMSSST). No IAMCSST, ocorre isquemia com elevação de marcadores, porém sem elevação do segmento ST no eletrocardiograma (ECG). Enquanto no IAMCSST, além da elevação de marcadores, há associação da elevação do segmento ST no ECG. 

Fisiopatologia do infarto agudo do miocárdio

O mecanismo do Infarto Agudo do Miocárdio normalmente ocorre pela associação com a doença aterosclerótica, por meio da formação de placas ateromatosas.  O acúmulo de lipídios extracelulares pode gerar a formação dessas placas que, caso rompam ou sofram erosão superficial, podem causar uma oclusão parcial ou total da artéria coronária. A oclusão parcial da artéria coronariana gera o IAM sem supra de ST. A oclusão total gera o IAM com supra de ST.

Fisiopatologia do IAM. Fonte: Blog Dr. Michel Kalansky 
Fisiopatologia do IAM. Fonte: Blog Dr. Michel Kalansky 

Causas de infarto agudo do miocárdio

As causas de IAM podem ser divididas em 5 grupos, como podemos ver a seguir:

Causas IAM
Tipo 1 Mais comum. Causado por instabilidade da placa ateromatosa.
Tipo 2 Causado pelo desbalanço entre oferta e demanda de oxigênio pelo músculo, como na dissecção coronariana, vasoespasmo, sepse.
Tipo 3 Morte súbita.
Tipo 4 Relacionado a angioplastia.
A - Precoce e com elevação de troponina, evidenciando nova isquemia.
B - Mais tardio e indica trombose ou reestenose de stent.
Tipo 5 Relacionado à cirurgia de revascularização cardíaca.
Tipos de infarto. Fonte: Como classificar os diferentes tipos de infarto do miocárdio? - CardioPapers

Sintomas de infarto agudo do miocárdio

A principal manifestação clínica do IAM é a dor torácica do tipo anginosa, caracterizada por dor na região anterior e central do tórax, difusa, podendo irradiar para o epigástrio, mandíbula, região interescapular e braço.  Essa dor é geralmente descrita como “pressão”, “peso” ou “aperto”. Ela tem duração maior ou igual a 10 minutos, porém não dura mais que poucas horas.  

Além disso, costuma piorar com esforço e melhorar no repouso. Alguns sinais que indicam que a dor provavelmente não é anginosa são: piora à palpação, piora a mobilização dos braços, piora ao inspirar ou expirar, e duração de dias.

Associado ao sintoma de dor torácica, pode aparecer sudorese, dispneia, náuseas e vômitos, tontura e sintomas de ansiedade. Alguns pacientes, porém, podem ter dor torácica atípica ou sintomas incomuns, principalmente idosos, mulheres, portadores de doença renal crônica, diabetes ou demência e transplantados cardíacos. A apresentação clínica do IAMCSST costuma ser mais intensa e grave que a do IAMSSST.

Ao exame físico, normalmente tem poucos achados. Podem ser observados sinais de congestão pulmonar e hipoperfusão tecidual. Podem aparecer sinais de ameaça iminente à vida, como instabilidade hemodinâmica, sinais de baixo débito cardíaco, insuficiência respiratória e rebaixamento do nível de consciência. Além disso, alguns sinais de risco para evolução desfavorável podem aparecer como surgimento de novo sopro cardíaco e sinais de insuficiência cardíaca (IC).

Diagnóstico

O diagnóstico de Síndrome Coronariana Aguda é feito por meio do eletrocardiograma (ECG) e pela dosagem de marcadores biológicos de necrose miocárdica (troponina é o mais usado).

Eletrocardiograma

O ECG deve ser feito em até 10 minutos após o início da dor. No IAMSSST, não é visto o supradesnivelamento de ST, porém, pode ocorrer inversão da onda T ou nova onda Q patológica.

ECG de paciente com IAMCSST com onda T invertida. Fonte: Cardiopapers 
ECG de paciente com IAMCSST com onda T invertida. Fonte: Cardiopapers 

No IAMCSST, ocorre elevação do segmento ST de pelo menos 1 mm em duas ou mais derivações contíguas (da mesma parede). No caso de V1 e V3, deve ser de 1,5 mm em mulheres; 2,0 mm em homens acima de 40 anos; 2,5 mm em homens abaixo de 40 anos. Em V7 e V9, deve ser de pelo menos 0,5 mm.

Parede Derivações Coronária afetada
Anterior V1, V2, V3 e V4 Descendente anterior
Ântero Septal V1, V2 e V3 Descendente anterior
Lateral V5, V6, D1, aVL Circunflexa
Lateral alta D1 e aVL Circunflexa
Anterior extenso V1 a V6, D1 e aVL Tronco esquerdo
Inferior D3 e aVF Direita ou circunflexa
Ventrículo direito V1, V3R e V4R Direita
Posterior (dorsal) V7, V8 e V9 Direita
Supra de ST: derivações e parede afetada. Fonte:Síndrome coronariana com supra ST: como avaliar o eletrocardiograma - PEBMED
ECG de caso de IAMCSST. Supra de ST visto nas derivações D2, D3 e AVF (parede inferior) e em V5 e V6 (parede lateral). Fonte: CardioPapers IAM inferior0001
ECG de caso de IAMCSST. Supra de ST visto nas derivações D2, D3 e AVF (parede inferior) e em V5 e V6 (parede lateral). Fonte: CardioPapers

Existem ainda algumas alterações equivalentes à supra de ST. São elas: BRE novo, supra de aVR com infra nas demais derivações (lesão de tronco coronariano), padrão de Wellens (ondas T bifásicas ou negativas) e padrão de Winter (depressão do ponto J > 1 mm, com segmento ST de padrão ascendente e ondas T positivas, largas, altas e simétricas).

Padrão de Winter. Fonte: LITFL
Padrão de Winter. Fonte: LITFL

Troponina

Na Síndrome Coronariana Aguda a troponina encontra-se aumentada no IAM com ou sem supra. O protocolo de dosagem deve ser na admissão, após 1h e após 3h para observação da curva. Os valores estão alterados acima do percentil 99. Outros possíveis marcadores, pouco usados, são: CKMB e mioglobina.

Curva dos marcadores de lesão miocárdica no infarto. Fonte: Blog Center Lab
Curva dos marcadores de lesão miocárdica no infarto. Fonte: Blog Center Lab

Estratificação de risco (para o IAM sem supra de ST)

Os pacientes com IAMSSST devem ser estratificados, baseados em alguns escores, com o objetivo de determinar necessidade de tratamento invasivo (cateterismo). Porém, pacientes de muito alto risco devem ser submetidos ao cateterismo com menos de 2 horas, independentemente do valor da troponina ou dos escores.

São eles: 

  • Pacientes com instabilidade hemodinâmica; 
  • Choque cardiogênico;
  • Dor torácica refratária;
  • Instabilidade elétrica (arritmias malignas ou PCR);
  • Complicações mecânicas e IC aguda.  Os demais, devem ser estratificados, por meio dos escores Heart, TIMI e GRACE.

Escores

Escore Heart

O Escore Heart seleciona os pacientes de risco baixo e que podem receber alta. Pacientes com mais de 3 pontos estão em risco intermediário ou alto e devem ser devidamente tratados.

FATOR CARACTERÍSTICA PONTOS
H(História) Altamente suspeita
Moderadamente suspeita
Baixa suspeita
2
1
0
E(ECG) Infra de ST
Alterações inespecíficas
Normal
2
1
0
A(Age – Idade) >65 anos
45-64 anos
< 45 anos
2
1
0
R(Risk factors – Fatores de risco) ≥ 3 fatores de risco ou aterosclerose
1 ou 2 fatores de risco
Nenhum fator de risco
2
1
0
T(Troponina) ≥ 3x o limite da normalidade
1-3x o limite da normalidade
Dentro da normalidade
2
1
0
Escore Heart. Fonte: Dor torácica aguda: como usar o HEART Score na prática?

Escore TIMI

O Escore TIMI e o Escore GRACE são utilizados para determinar quais pacientes se beneficiam do cateterismo no IAMSSST. Pacientes com pontuação maior ou igual a 5 no escore TIMI ou maior que 140 no GRACE devem fazer cateterismo com menos de 24 horas.

Fator Pontuação
Idade ≥ 65 anos 1 ponto
≥ 3 fatores de risco para doença aterosclerótica 1 ponto
Coronariopatia com ≥ 50% de obstrução 1 ponto
Uso de AAS nos últimos 7 dias 1 ponto
Angina instável nas últimas 24h (02 ou mais episódios) 1 ponto
Elevação de marcadores de necrose miocárdica 1 ponto
Infra de ST ≥ 0,5 mm 1 ponto
Escore TIMI. Fonte: Escore TIMI para avaliação de risco de síndromes coronarianas agudas sem supra de ST

Escore GRACE

Já o Escore GRACE utiliza a idade, a classificação Killip, PA sistólica, FC, creatinina, PCR na admissão, desvio segmento ST e enzimas cardíacas positivas como avaliação. Pacientes com risco moderado (TIMI entre 2-5 e GRACE entre 109 e 140) podem ter estratégia invasiva (cateterismo) retardada por até 72h.  Pacientes com TIMI menor que 2 e GRACE menor que 109 não necessitam de estratégia invasiva.

Risco Escore/condição clínica
Muito alto Instabilidade hemodinâmica, choque cardiogênico, dor torácica refratária, instabilidade elétrica (arritmias malignas ou PCR), complicações mecânicas e IC aguda.
Alto TIMI > 5 e GRACE > 140
Moderado TIMI entre 2-5 e GRACE entre 109-140 xcx
Baixo TIMI < 2 e GRACE < 109
Resumo da estratificação de risco no IAMCSST e angina instável. Fonte: EMR/Larissa Mesquita

Como é feito o tratamento?

O tratamento medicamentoso para o IAM é feito com ácido acetilsalicílico (AAS), antagonistas do ADP ou inibidores do receptor P2Y12 e anticoagulantes.  Também podem ser utilizados analgésicos, inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA) ou bloqueadores do receptor da angiotensina (BRA) e estatinas.

Veja também:

Ademais, deve-se dar o suporte necessário, com reposição de eletrólitos, objetivando manter o potássio acima de 4 mEq/L e magnésio acima de 2 mEq/L.  Em pacientes com saturação menor que 90%, deve ser colocada oxigenioterapia. Nos casos de IAMCSST, alguns se beneficiam do cateterismo. No IAMCSST, todos os casos devem realizar terapia de reperfusão, seja por meio do cateterismo com angioplastia ou terapia trombolítica.

AAS

O ácido acetilsalicílico atua na agregação plaquetária e deve ser prescrito para todos os pacientes com IAM, exceto se for alérgico ou tiver histórico de efeito adverso.  A dose de ataque é de 162 a 300mg (em pacientes que não utilizaram nos últimos 7 dias) e a dose de manutenção é de 81 a 100mg/dia. Deve ser continuada por pelo menos 1 ano.

Antagonistas do ADP e inibidores do receptor P2Y12

Os antagonistas do ADP e os inibidores do receptor P2Y12 também atuam na agregação plaquetária. A recomendação também é de manutenção por 1 ano. As opções disponíveis incluem:

Clopidogrel

  • Ataque de 300 a 600mg
  • Manutenção de 75mg/dia

Prasugrel

  • Ataque de 60mg
  • Manutenção de 10mg/dia

Ticagrelor

  • Ataque de 180 mg
  • Manutenção de 90 mg 2x/dia

Anticoagulantes

O anticoagulante de escolha é a heparina de baixo peso molecular (enoxaparina). Porém, em pacientes com clearance de creatinina < 20 ml/min, não deve ser usada, tendo a heparina não fracionada e a fondaparinux como opções. A fondaparinux é a melhor opção para pacientes com maior risco de sangramento.

Analgesia

A analgesia dos pacientes com IAM pode ser feita com o uso de betabloqueadores, bloqueadores do canal de cálcio ou nitratos. Atuam gerando vasodilatação coronariana, para aumentar a oferta de oxigênio, e promovendo a diminuição da frequência cardíaca e pressão arterial, para reduzir a demanda do coração.

O betabloqueador (como metoprolol, carvedilol e atenolol) deve ser utilizado nas primeiras 24h, porém não deve ser usado em pacientes com IC descompensada, sinais de baixo débito, alto risco cardiogênico, bloqueio atrioventricular e asma. Os bloqueadores de canais de cálcio são utilizados nos intolerantes aos betabloqueadores ou com sintomas persistentes. As opções são verapamil e diltiazem.

O nitrato é outra opção para redução de sintomas. O sublingual pode ser feito inicialmente para aliviar a dor no peito, podendo ser repetido até 3 vezes com intervalo de 5 minutos. No caso persistente, pode usar nitroglicerina intravenosa.

IECA ou BRA

Além dos medicamentos já citados, deve ser incluído no tratamento o IECA (enalapril, captopril e lisinopril) ou BRA (losartana, valsartana, etc).

Estatina

Deve ser incluído ainda estatina de alta potência. A meta deve ser reduzir o LDL para 50.  As opções são atorvastatina 40-80 mg ou rosuvastatina 20-40mg. A atorvastatina é a mais potente, sendo a de escolha para fase aguda, costumando ter bons resultados quando administrada de 60 a 90 dias.

Trombolíticos (apenas para IAMCSST)

Os agentes trombolíticos devem ser feitos nos pacientes com IAMCSST que não podem realizar cateterismo com angioplastia em 120 minutos após o diagnóstico. Essa terapia deve ser iniciada em até 30 minutos, não necessitando aguardar resultado de troponina.

Contraindicações absolutas Contraindicações relativas
Qualquer sangramento intracraniano História de AVCi >3 meses ou outra patologia craniana não listada
AVCi nos últimos 3 meses Gravidez
Dano ou neoplasia no SNC Uso de antagonista de vitamina K (INR alto)
Trauma cefálico ou facial nos últimos 3 meses Sangramento interno recente < 2-4 semanas
Sangramento ativo ou diátese hemorrágica (exceto menstruação) Ressuscitação cardiopulmonar traumática ou prolongada > 10min ou cirurgia < 3 semanas
Qualquer lesão vascular cerebral Hipertensão arterial não controlada
Suspeita de dissecção de aorta Punções não compreensíveis
Discrasia sanguínea História de hipertensão arterial crônica importante e não controlada
Úlcera péptica ativa
Exposição prévia a terapia (>5 dias) ou reação alérgica prévia
Contraindicações ao uso de trombolíticos. Fonte: Adaptação da tabela do medscape

Após sua administração, o ECG pode ser realizado com 60 e 90 minutos para avaliar a repercussão.  Os critérios de reperfusão são: melhora de pelo menos 50% na elevação de ST, arritmias de reperfusão (ritmo idioventricular acelerado) e melhora da dor.

Agente Dose
Estreptoquinase 1,5 milhões UI em 100 ml de SG5% ou SF 0,9% em 30-60min
Alteplase 15 mg EV em bolus, seguido por 0,75 mg/kg em 30min e então 0,50 mg/kg em 60min
Tenecteplase Bolus único de 30 mg se < 60kg, 35mg se 60-70kg, 40mg se 70-80 kg, 45 mg se 80-90 kg e 50mg se > 90kg
Doses da terapia trombolítica. Fonte: Relembrando o básico: Trombolíticos no IAM com Supra ( doses e contra indicações) - CardioPapers

Se necessário, pode ser realizado angioplastia de resgate em casos de repercussão malsucedida, dor refratária, instabilidade hemodinâmica ou elétrica. Antes da alta, indica-se realização de angiografia coronária.

Estratégia invasiva - Cateterismo

No IAMCSST, o cateterismo é indicado também em todos com risco de moderado a muito alto.  Se for encontrado lesão obstrutiva importante, realiza-se angioplastia com stent na mais significativa.

Risco Horas para cateterismo
Muito alto 2h
Alto 24h
Moderado 72h
Risco (calculado pelos escores) e horas máxima para realização do cateterismo. Fonte: EMR/Larissa Mesquita

No IAMCSST, o cateterismo com angioplastia é indicado a todos, desde que antes de 120 minutos. Normalmente, trata-se de artéria culpada com stent farmacológico.

Angioplastia com colocação de stent. Fonte: Angioplastia
Angioplastia com colocação de stent. Fonte: Angioplastia

Conclusão

O infarto agudo do miocárdio é uma condição comum, sendo a principal causa de morte no Brasil. Normalmente, é causado por rompimento de uma placa aterosclerótica, que pode causar oclusão parcial (IAM sem supra de ST) ou total (IAM com supra de ST) do vaso sanguíneo. 

Clinicamente se apresenta com dor do tipo anginosas, podendo ter sintomas associados, como tontura e náuseas, com elevação de marcadores de necrose miocárdica e alterações eletrográficas. Alguns pacientes devem ser submetidos ao cateterismo cardíaco o mais rápido possível, enquanto outros podem se beneficiar de tratamento conservador. 

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