A infecção por HIV ainda é muito prevalente, 36,2 milhões de adultos convivem com a doença.
A coinfecção HIV e COVID provoca maior risco de mortalidade nesse grupo, principalmente nos pacientes que desenvolvem a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS).
Vamos entender um pouco como se dá essa coinfecção e quais suas consequências.
Como funciona a coinfecção do HIV e COVID-19?
As pessoas vivendo com HIV (PVHIV) não apresentam maior suscetibilidade para a infecção pelo SARS-CoV2, a prevalência da infecção parece ser semelhante à população geral.
Mas quando a coinfecção HIV e COVID se estabelece, algumas interações entre os dois vírus podem ocorrer, e provocar piores desfechos neste grupo.
O vírus da SARS-CoV2 infecta células que possuem o receptor ECA2, o que inclui principalmente células do trato respiratório, mas também coração, pulmão e rins.
Já o HIV infecta primariamente linfócitos CD4 +, causando uma linfopenia. Estudos recentes demonstraram que a COVID-19 está associada ao desenvolvimento de uma linfopenia (principalmente dos linfócitos T CD4 +).
Desse modo, se essa linfopenia se somar à baixa contagem de linfócitos já promovida pelo HIV pode haver uma maior dificuldade do sistema imunológico em reagir ao coronavírus, com um maior risco de progressão dessa doença.
Além disso, esse vírus foi reconhecido como promotor de um estado protrombótico, assim como o Vírus da Imunodeficiência Humana.
Assim, também há um maior risco teórico de fenômenos trombóticos nessa coinfecção HIV e COVID.
Vale lembrar que a infecção pelo HIV promove um estado inflamatório crônico, ocasionando diversas complicações não-infecciosas, como doença cardiovascular aterosclerótica, que são fatores de risco adicional para a infecção causada pelo novo coronavírus.
Consequências da COVID-19 em pacientes infectados com HIV
Os sintomas da COVID-19 nos pacientes vivendo com HIV não parecem diferir da população geral.
Uma grande coorte demonstrou que a infecção pelo HIV está associada a maior risco de doença grave, hospitalização, ventilação mecânica e mortalidade pelo COVID-19.
Inclusive, esse risco elevado ocorre mesmo nos indivíduos que atingiram a supressão virológica através da TARV (Terapia Antirretroviral).
Contudo, os riscos são maiores naqueles com carga viral elevada, e, consequentemente, com contagens de CD4 + baixas, principalmente abaixo de 350 células/mm³.
Manejo da COVID-19 no Grupo das PVHIV
O esquema da TARV não precisa ser alterado devido à infecção causada pelo novo coronavírus, e substituições devem ser evitadas durante o período.
Nos quadros leves e iniciais, as PVHIV, principalmente que desenvolveram AIDS e não-vacinados, podem ser elegíveis para tratamentos específicos para COVID-19, visando evitar a progressão da doença.
Entre eles o antiviral remdesivir, e a associação nirmatrelvir-ritonavir. A droga remdesivir atua inibindo a polimerase do SARS-CoV2, sendo capaz de reduzir a hospitalização em 87% se iniciada nos primeiros 7 dias.
Entretanto, parece não ter efeitos sobre a mortalidade, mas é administrada via parenteral, o que pode dificultar seu uso em pacientes avaliados de forma ambulatorial.
O nirmatrelvir-ritonavir é um inibidor de protease do mesmo patógeno supracitado. Ele é responsável por reduzir o risco de hospitalização ou morte em aproximadamente 90% se iniciado nos primeiros 5 dias de doença.
Vale lembrar que é uma medicação de alto custo, e que só vale a pena ser considerada em indivíduos que realmente apresentam risco elevado de complicações da doença.
Nos pacientes já internados e em suporte ventilatório, pode ser utilizada a dexametasona, que demonstrou capacidade de reduzir a mortalidade quando utilizada nesse contexto.
Para os pacientes que estão usando a TARV, é preciso ter cuidado pois esse medicamento pode interagir com inibidores de protease (atazanavir, ritonavir, darunavir, lopinavir).
Por isso, deve-se monitorar mais de perto a carga viral desses pacientes. Além disso, outros corticóides como prednisona ou betametasona estão associados a Insuficiência Adrenal ou Síndrome de Cushing, quando são administrados com os inibidores de protease.
Vacina COVID e HIV: quais são os riscos?
As PVHIV devem receber todas as doses da vacina contra COVID-19, independente do CD4 e carga viral.
Além do mais, podem ser elegíveis para receber doses de reforço. Os ensaios clínicos randomizados para demonstração da eficácia das vacinas incluíram pessoas infectadas com HIV e demonstraram que há uma boa resposta à vacina nos pacientes com carga viral indetectável
No entanto, pacientes com infecção por HIV avançada ou não tratada têm respostas mais fracas.
Nenhuma das vacinas liberadas para COVID-19 possui vírus vivo funcionante (a Astrazeneca e a Janssen utilizam adenovírus vivos que não conseguem se replicar como vetores para o código genético do SARS-CoV2).
Sendo assim, não há dados que indiquem que há risco adicional de efeitos adversos das vacinas para os PVHIV, desse modo a vacinação é segura neste grupo.
Assim essa população deve receber a vacinação da COVID-19 independente da contagem de CD4 +.
Para mais, todas as pessoas vivendo com HIV devem praticar as medidas preventivas preconizadas pelas organizações internacionais, como uso de máscaras, distanciamento social e higienização das mãos.
Vale lembrar que as vacinas contra pneumococo e influenza devem se manter atualizadas.
Conclusão
A infecção pelo HIV traz riscos adicionais para pacientes com COVID-19, mas de forma geral o manejo da doença se mantém o mesmo, e todos os pacientes infectados devem receber todas as doses das vacinas.
Além disso, as pessoas vivendo com HIV podem ser elegíveis para o uso de medicamentos antivirais específicos para o SARS-CoV2 a depender de uma avaliação custo-benefício.
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