A gonorreia, uma infecção sexualmente transmissível (IST), continua a ser uma preocupação global de saúde pública. Em todo o mundo, estima-se que mais de 87 milhões de novos casos ocorrem anualmente, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, dados do Ministério da Saúde indicam que, em 2020, foram notificados mais de 200 mil casos da doença no país.
Esses números destacam a importância contínua de estratégias de prevenção, detecção precoce e tratamento eficaz para controlar a disseminação da gonorreia. Além disso, a preocupação com a resistência antimicrobiana, que afeta a eficácia dos tratamentos padrão, intensifica a necessidade de medidas de prevenção e tratamento racional baseado em evidências.
O que é a gonorreia?
A gonorreia é uma infecção bacteriana sexualmente transmissível causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae. Esta patologia pode afetar diversas regiões do corpo, incluindo os órgãos genitais, reto e faringe, sendo transmitida principalmente por meio de relações sexuais sem preservativo com um indivíduo infectado. Os quadros mais comumente causados são de cervicite e uretrite.
Sendo classificada como uma infecção sexualmente transmissível, ela é frequentemente ocorre junto a outras infecções, como a Sífilis, HIV, Tricomoníase e Vaginose bacteriana. Por fim, existem evidências de que mulheres com história prévia da IST possuem uma maior chance de adquirir o HIV.
Fisiopatologia e etiologia
A infecção, causada pelo diplococo Gram-negativo N. gonorrhoeae, se inicia com adesão desse agente à superfície epitelial progredindo com uma invasão celular local. Essa adesão é facilitada pela presença de proteínas de superfície especializadas em forma de fibras, as quais também fornecem habilidade e proteção. Já a invasão celular recebe o auxílio da capacidade da cepa de alongamento e retração no tecido.
Esses microrganismos contam com um componente chamado de lipoligossacarídeo (LOS). O LOS possui afinidade com células espermáticas, o que facilita a transmissão do homem a(o) parceira(o) por via sexual. Ademais, esses gonococos adentram a célula hospedeira por grandes vacúolos, onde consegue se multiplicar.
A Neisseria gonorrhoeae induz uma infecção localizada de acordo com o local de inoculação, sendo os principais: uretra, colo uterino, faringe ou ânus em adultos, e a conjuntiva ocular ou faringe de recém-nascidos (por passagem de canal vaginal de parto). Apesar da tendência local, pode ocorrer a disseminação sistêmica.
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Sinais e sintomas de Gonorreia
Na população feminina a gonorreia infecta mais comumente o colo uterino, resultando em cervicite. Nesses casos os sintomas mais comuns são corrimento vaginal, disúria e dor pélvica. Ademais, as glândulas de Bartholin, adjacentes ao introito vaginal, também podem ser contaminadas, causando a Bartolinite, que se manifesta como: edema do tecido labial, formação de abscesso e dor na genitália externa.
Caso o quadro inicial não for detectado e manejado adequadamente, esse microorganismo pode ascender no sistema sexual feminino, causando infecção do trato genital superior como o salpingite, endometrite e doença inflamatória pélvica. A doença inflamatória pélvica causa intensa dor pélvica, infertilidade por surgimentos de sinéquias e aumenta o risco de gravidez ectópica, além de aumentar a probabilidade de disseminação dessa bactéria para a cavidade peritoneal.
Já nos homens, a uretrite se manifestará com corrimento purulento peniano, disúria e desconforto testicular. Assim como nas mulheres, a falta de tratamento correto acarreta em disseminação e complicações dessa patologia. Exemplos dessas são: orquiepididimite, linfangite peniana, edema peniano e estreitamento uretral pós-infeccioso.
Em ambos os sexos é possível acontecer a infecção via anal, a qual pode progredir no reto e se manifestar com dor, hematoquezia, corrimento e proctite. Muito raramente se manifesta de maneira sistêmica com febre, septicemia, tenossinovite, artrite e vasculite.
Diagnóstico
O diagnóstico da gonorreia deve ser confirmado com testes laboratoriais a partir da suspeita clínica. É realizado por detecção direta do N. gonorrhoeae em espécime em swab urogenital, anorretal, faríngeo ou conjuntival, além de urocultura de primeiro jato, de acordo com o quadro. População adepta à relação sexual anogenital e oral deve fazer rastreio anal e faríngeo mesmo sem sintomas locais.
Além da técnica mais comum citada anteriormente, ainda conta-se com a possibilidade do NAAT, o teste de amplificação de ácido nucleico. Esse é pouco disponível, porém é recomendado pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos. Todos os pacientes diagnosticados com Gonorreia devem realizar investigação sorológica para Chlamydia trachomatis, Sífilis e HIV.
Diagnóstico diferencial
Como tratar a gonorreia?
Durante os passos iniciais da investigação da Gonorreia, a terapia empírica já é iniciada, principalmente após forte suspeita clínica. Ela é composta de uma dose intramuscular ou intravenosa de Ceftriaxona 500mg. Caso o paciente tenha peso ≥ 150 kg, 1g deve ser administrado. Nos casos de complicações (como as citadas anteriormente), o tratamento anterior é associado à Doxiciclina via oral de 100mg duas vezes ao dia por 7 dias.
Conclusão
A gonorreia, uma IST causada pela N. gonorrhoeae, pode afetar diversos órgãos, mas tem como foco os órgãos genitais. Nos homens, pode causar corrimento peniano e desconforto testicular, enquanto nas mulheres, resulta em cervicite, com sintomas como corrimento vaginal e dor pélvica. Se não tratada, pode levar a complicações como salpingite e proctite. O diagnóstico é feito por testes laboratoriais, e o tratamento, frequentemente com ceftriaxona, é essencial para evitar complicações e interromper a disseminação da doença.
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