Covid-19
Publicado em
9/3/21

Transmissão transplacentária de anticorpos

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Transmissão transplacentária de anticorpos

No último dia 28 de janeiro, foi apresentado um estudo no Society for Maternal-Fetal Medicine (SMFM) 2021 Annual Pregnancy Meeting, mostrando a capacidade das mães de imunizarem seus bebês contra o coronavírus. Dessa maneira, ficou constatado que há passagem transplacentária de anticorpos contra o vírus. Além disso, pesquisas como essa auxiliam a definir se gestantes podem tomar a vacina e em quanto tempo de gestação ela pode ser aplicada, para que haja uma resposta imune considerável.

Sobre o estudo Annual Pregnancy Meeting

A população de estudo foi formada por 32 pares de mães e filhos, sendo 72% negros não hispânicos e 25% hispânicos. A maior parte dessas mulheres (72%) tinham ao menos uma comorbidade. Assim, obesidade, hipertensão, asma e  doença pulmonar foram as mais comuns. Para além disso, 53% das 32 mães manifestaram sintomas da infecção pelo Sars-Cov-2 e 88% delas adoeceram no terceiro trimestre de gestação.

Dito isso, o objetivo dos pesquisadores foi analisar a quantidade de imunoglobulina G (IgG) e de imunoglobulina M (IgM) coletadas das amostras sanguíneas maternas e do cordão umbilical. A coleta foi realizada em mulheres que testaram positivo para a Covid-19 em qualquer fase gestacional. Ademais, um ensaio imunoabsorvente enzimático foi usado, a fim de avaliar a presença de anticorpos para o domínio ligante do receptor da proteína spike do SARS-CoV-2.

Durante a análise das amostras sanguíneas foi percebido que todas as parturientes possuíam anticorpos IgG e 94% delas tinham anticorpos IgM e neutralizantes contra o vírus. Já nas amostras dos cordões umbilicais, coletadas durante o parto, o resultado foi diferente. Com isso, 91% dos 32 bebês apresentavam IgG, 9% deles tinham IgM e 25% apresentavam anticorpos neutralizantes.

Sendo assim, os títulos de IgG eram mais elevados nas mães com a forma sintomática da doença, quando comparados às mães assintomáticas. Constatação não observada nos níveis de IgM e de anticorpos neutralizantes. Para mais, observando o grupo das pessoas com alguma sintomática, juntamente com o grupo das assintomáticas, ainda assim, ficou evidente que os níveis de IgG permaneceram mais elevados do que os níveis das outras proteções. A imunidade protetora materna durou cerca de 28 dias.

Já quando foi observada a resposta imune neutralizante dos neonatos, os pesquisadores perceberam que ela foi muito maior naqueles cujo a mãe teve a forma sintomática da Covid-19. Em relação a eficiência transplacentária, em outros patógenos, ela está correlacionada com a imunidade neonatal quando a razão entre o sangue materno e o cordão umbilical é maior do que 1. Nesse caso, a razão encontrada entre os títulos foi menor do que 1 (0,81).

Por isso, a transferência transplacentária ainda precisa de mais estudos, para entender como e se a imunidade pode beneficiar os recém-nascidos. O estudo não contou com um grupo de controle e o tamanho da amostra era pequeno. Entretanto, o ponto forte da pesquisa se encontra no fato da população analisada apresentar comorbidades e um alto risco de contaminação para o coronavírus.

Outra pesquisa

Um outro estudo publicado no último dia 29 de janeiro, no periódico JAMA Pediatrics, nos Estados Unidos, também avaliou os níveis de anticorpos contra o domínio ligante do receptor da proteína spike do SARS-CoV-2. Nele, diferentemente do outro, a razão entre os títulos do cordão umbilical e maternos foi maior do que 1.

A população do estudo foi bem maior, contou com a participação de 1.417 pares de mães e filhos. Os pesquisadores obtiveram plasma sanguíneo sem fibrinogênio da mãe e do cordão umbilical, e o tempo gestacional no qual a mulher foi acometida pelo vírus não interferiu nas análises. A média de idade das mães era de 32 anos e suas origens eram bem diversificadas. Então, um pouco mais da metade eram mulheres brancas (51%), um quarto delas era negra (26%), 12% hispânicas e os outros 7% eram compostos por asiáticas.

A maioria delas (60%) teve o diagnóstico positivo para o coronavírus, mas não desenvolveu sintomas. Na hora do parto, apenas 6% das 1.417 mães tinham anticorpos IgG e IgM. Diferentemente dos seus filhos, já que nenhum deles possuía IgG e em 87% foi detectado IgM no cordão umbilical.

Desse modo, o fato de a mulher ser ou não sintomática não interferiu na concentração de anticorpos da sua prole. Sendo assim, um grupo de mães apresentava anticorpos e seus filhos não. Esse grupo era formado por 11 mulheres. Destas, cinco apresentavam apenas anticorpos IgM, e seis delas tinham uma concentração de IgG expressivamente menor do que as outras parturientes.

Conclusão

Por fim, pesquisas como essa são importantes para que análises sobre a vacinação durante a gravidez sejam realizadas, uma vez que, não se sabe ao certo se a resposta à vacina pode ser a mesma antes e após o parto. Além disso, dados assim podem indicar qual a melhor fase gestacional para aplicação do imunizante contra o coronavírus, o quão efetivos seriam os anticorpos neonatais e quanto tempo a imunidade dura após o nascimento.

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