O Brasil possui uma grande diversidade médica. Assim, a fim de compreender os meandros da população médica, foi lançado em 2010 um projeto chamado: ‘Demografia Médica no Brasil’. Agora em 2020, ele mostrou a crescente feminização e rejuvenescimento da medicina. Os responsáveis pelos primeiros estudos foram o Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).
Em 2020, os resultados apresentados foram fruto da cooperação entre o CFM e a Universidade de São Paulo (USP). De acordo com a pesquisa, existe uma crescente feminização da medicina, que começou a partir de 2009. Assim, 6.417 mulheres se registraram no CFM naquele ano. Um número um pouco maior do que os homens (6.321 inscritos).
A diferença representou um marco, pois desde então as novas inscrições das mulheres têm superado a dos homens. Desse modo, dos 21.941 profissionais médicos registrados em 2019, 12.616 (57,5%) eram do sexo feminino, o maior número de inscrições em 10 anos.
Essa feminização é considerada uma evolução histórica, já que, os homens sempre foram maioria entre os médicos brasileiros. No entanto, essa diferença está diminuindo gradativamente e de forma expressiva. Desse modo, até 2010, por exemplo, elas ainda eram minoria, representando apenas 39,9% da população médica. No entanto, em 2019, as médicas passaram a representar 46,6% do total populacional.
Além disso, as médicas já são maioria em muitos estados, apesar da distribuição por gênero ser desigual. Dessa maneira, elas correspondem a 379 dos 1.006 médicos existentes no Amapá. Ao contrário do que é visto no Rio de Janeiro, onde elas são maioria, correspondendo a cerca de 32 mil profissionais. Isso também ocorre em Pernambuco, onde as médicas representam 50,2% dos 19.318 profissionais médicos.
A nossa equipe falou com duas estudantes de medicina pernambucanas sobre a feminização do trabalho médico. Mariana Ferreira (24), estudante do 7º período de medicina da Uninassau, afirma que ao longo dos estágios ela realmente consegue perceber essa mudança. “A maioria dos meus preceptores realmente são mulheres, mas apesar disso, a quantidade daqueles que ocupam um cargo de chefia, de liderança, ainda não é proporcional (se comparadas aos homens)”.
Sendo assim, ela reconhece que existem “algumas especialidades da medicina que valorizam mais os homens”. Fator que também foi apontado por Ellen Kosminsky (21), estudante do 4º período de medicina da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS). Para ela, apesar das médicas serem maioria em Pernambuco, ainda existe um pensamento de que elas devem exercer determinados cargos.
É esperado que os homens sejam cirurgiões, por exemplo. E existe uma expectativa de que as mulheres se especializem em saúde da família ou pediatria
Ellen ainda afirma que, por causa dessas expectativas, a maioria dos seus monitores de anatomia são do sexo masculino e todos os monitores de semiologia são do sexo feminino.
Juvenescimento da medicina
O estudo demográfico também revela que a média de idade entre os médicos ativos no Brasil está decaindo, apontando para um juvenescimento da medicina. Assim, em 2020, de maneira geral, a média se encontrava em 45 anos. Assim como em Pernambuco. Quando olham isso por gênero ela muda um pouco. Dessa maneira, entre os profissionais médicos, a média é de 48 anos e entre as médicas, ela é de 42 anos.
Quando perguntado sobre o que acha desse juvenescimento, a estudante Mariana Ferreira disse achar ser positivo esse fenômeno. Para ela, os médicos mais novos têm uma tendência maior a buscar as novidades médicas, a não se acomodarem nas suas especialidades e ir em busca de novos conhecimentos. Ellen Kosminsky diz que esse fenômeno também é positivo. Ela acredita que isso muda a forma como o paciente é tratado.
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“Eu tenho muitos médicos na minha família e consigo perceber uma diferença muito grande em como encaram o tratar o paciente” relata Kosminsky. E continua: “eu tenho aula de comunicação - como me comunicar com o paciente, como dá uma notícia de morte – na época que minha mãe estudou ela não tinha essa aula, por exemplo”.
Por fim, apesar de os homens ainda serem maioria em boa parte do território brasileiro, as mulheres exercendo a medicina são maioria entre as faixas etárias mais jovens (de 29 a 34 anos). Os médicos estão em número maior quando são observadas nos estratos etários maiores (a partir dos 40 anos). Assim, o quantitativo mais expressivo de homens praticando a medicina é observado acima dos 70 anos, com uma porcentagem que chega a 79%.
Fonte:
- https://www.fm.usp.br/fmusp/conteudo/DemografiaMedica2020_9DEZ.pdf