O carcinoma de células renais (CCR) é uma neoplasia maligna que se origina no epitélio dos túbulos renais, sendo responsável por cerca de 85% dos casos de câncer renal em adultos. Nas últimas décadas, a incidência dessa patologia tem aumentado, em parte devido à ampla disponibilidade de exames de imagem. Apesar de avanços significativos no tratamento, o CCR ainda representa um desafio devido à sua heterogeneidade histológica, variabilidade clínica e alta propensão a metástases.
Este guia tem como objetivo fornecer informações detalhadas para médicos sobre os principais aspectos desse tipo de câncer, incluindo sua etiologia, apresentação clínica, diagnóstico, estadiamento e opções terapêuticas.
O que é o carcinoma de células renais?
O carcinoma de células renais compreende um grupo de tumores que se diferenciam por características histológicas, moleculares e clínicas. Os subtipos mais relevantes incluem:
- Carcinoma de células claras (∼70-80% dos casos): Associado a mutações no gene VHL, frequentemente envolve angiogênese desregulada.
- Carcinoma papilífero (10-15%): Subdividido em tipo 1 (menos agressivo) e tipo 2 (mais agressivo), com diferentes alterações genéticas, como mutações nos genes MET ou FH.
- Carcinoma cromófobo (∼5%): Origina-se nas células intercaladas dos ductos coletores, geralmente com melhor prognóstico.
- Carcinoma do ducto coletor e carcinoma medular: Tumores raros, de alta agressividade, muitas vezes associados a malformações ou anemias falciformes (carcinoma medular).
Etiologia do carcinoma de células renais
A etiologia do carcinoma de células renais é multifatorial, com interações entre fatores genéticos e ambientais:
Genética
Mutações no gene VHL (doença de von Hippel-Lindau), MET (carcinoma papilífero tipo 1) e outras vias de sinalização.
Fatores de risco
- Tabagismo: risco relativo aumentado em 20-30%).
- Obesidade: associada a alterações hormonais e metabólicas.
- Hipertensão arterial: Possivelmente ligada a lesões vasculares renais crônicas.
- Exposição ocupacional a produtos químicos, como solventes, derivados do petróleo, pesticidas e metais pesados.
- Doença renal crônica e diálise de longa duração.
Sinais e sintomas
O carcinoma de células renais é frequentemente assintomático nos estágios iniciais e é diagnosticado incidentalmente em exames de imagem. Nos estágios mais avançados, pode apresentar:
Tríade clássica (menos comum hoje devido ao diagnóstico precoce):
- Hematúria macroscópica
- Dor lombar ou abdominal
- Massa palpável no flanco
Síndromes paraneoplásicas
- Hipercalcemia: causada pela produção ectópica de hormônios ou citocinas
- Policitemia: devido a produção excessiva de eritropoetina
- Hipertensão arterial: devido à ativação do sistema renina-angiotensina
Sintomas sistêmicos
- Febre
- Fadiga
- Perda de peso
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Diagnóstico de carcinoma de células renais
O diagnóstico de carcinoma de células renais é baseado em uma combinação de exames de imagem e histopatologia:
- Ultrassonografia abdominal: Frequentemente, é a 1ª linha para a identificação de massas renais;
- Tomografia computadorizada (TC): Padrão-ouro para caracterização de tumores;
- Ressonância magnética (RM): Indicada para pacientes com contraindicação ao contraste iodado ou para avaliação detalhada de envolvimento vascular.
- Biópsia renal: Geralmente reservada para casos com dúvida diagnóstica ou quando o tratamento cirúrgico não é viável.
Estadiamento
O sistema TNM (Tumor, Nódulo, Metástase) é utilizado para o estadiamento:
- T (Tumor primário): Classifica o tumor de acordo com o tamanho e extensão local.
- N (Linfonodos regionais): Avalia a presença de metástases linfonodais.
- M (Metástases à distância): Determina o acometimento de órgãos à distância, como pulmões, ossos, fígado e encéfalo.
Qual o tratamento?
O tratamento do carcinoma de células renais depende de vários fatores, incluindo o estágio da doença, a histologia e as condições clínicas do paciente. As principais abordagens incluem:
Cirurgia
Nefrectomia radical
Remoção do rim afetado, incluindo gordura perirrenal e linfonodos regionais, indicada para tumores grandes (≥5 cm) ou localmente invasivos.
Nefrectomia parcial
Preservação do rim remanescente, ideal para tumores pequenos (≤ 4 cm) ou pacientes com função renal comprometida.
Terapias direcionadas
Inibidores da angiogênese
Sunitinibe, pazopanibe e axitinibe atuam na via VEGF.
Inibidores do mTOR
Everolimo e temsirolimus são utilizados para tumores com mutações específicas.
Imunoterapia
Inibidores de checkpoint imunológico (anti-PD-1 e anti-CTLA-4)
Nivolumab e ipilimumabe demonstraram aumento na sobrevida global em casos avançados.
Terapias locais ablativas
Radiofrequência e crioablação
Indicadas para pacientes não candidatos à cirurgia.
Terapia paliativa
Alívio de sintomas, como dor óssea, utilizando radioterapia ou manejo farmacológico.
Conclusão
O carcinoma de células renais é uma neoplasia complexa que requer um manejo multidisciplinar. O diagnóstico precoce é crucial para melhores desfechos. Avanços em terapias direcionadas e imunoterapia revolucionaram o tratamento, especialmente em casos avançados. Uma abordagem personalizada, centrada no paciente, continua sendo essencial para otimizar a qualidade de vida e a sobrevida.
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FONTES:
- Cistos e neoplasia renal | Aprendendo com questões: Cirurgia Geral - ENARE FGV.
- Manual do Residente de Clínica Médica . 3. ed. Santana de Parnaíba [SP]: Manole, 2023.
- Harrison's Principles of Internal Medicine. 21. ed. [S. l.: s. n.], 2022.