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Publicado em
21/12/24

Carcinoma de células renais: etiologia, estadiamento e prognóstico

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Carcinoma de células renais: etiologia, estadiamento e prognóstico

O carcinoma de células renais (CCR) é uma neoplasia maligna que se origina no epitélio dos túbulos renais, sendo responsável por cerca de 85% dos casos de câncer renal em adultos. Nas últimas décadas, a incidência dessa patologia tem aumentado, em parte devido à ampla disponibilidade de exames de imagem. Apesar de avanços significativos no tratamento, o CCR ainda representa um desafio devido à sua heterogeneidade histológica, variabilidade clínica e alta propensão a metástases.

Este guia tem como objetivo fornecer informações detalhadas para médicos sobre os principais aspectos desse tipo de câncer, incluindo sua etiologia, apresentação clínica, diagnóstico, estadiamento e opções terapêuticas.

O que é o carcinoma de células renais?

O carcinoma de células renais compreende um grupo de tumores que se diferenciam por características histológicas, moleculares e clínicas. Os subtipos mais relevantes incluem:

  • Carcinoma de células claras (∼70-80% dos casos): Associado a mutações no gene VHL, frequentemente envolve angiogênese desregulada.
  • Carcinoma papilífero (10-15%): Subdividido em tipo 1 (menos agressivo) e tipo 2 (mais agressivo), com diferentes alterações genéticas, como mutações nos genes MET ou FH.
  • Carcinoma cromófobo (∼5%): Origina-se nas células intercaladas dos ductos coletores, geralmente com melhor prognóstico.
  • Carcinoma do ducto coletor e carcinoma medular: Tumores raros, de alta agressividade, muitas vezes associados a malformações ou anemias falciformes (carcinoma medular).

Etiologia do carcinoma de células renais

A etiologia do carcinoma de células renais é multifatorial, com interações entre fatores genéticos e ambientais:

Genética

Mutações no gene VHL (doença de von Hippel-Lindau), MET (carcinoma papilífero tipo 1) e outras vias de sinalização.

Fatores de risco

  • Tabagismo: risco relativo aumentado em 20-30%).
  • Obesidade: associada a alterações hormonais e metabólicas.
  • Hipertensão arterial: Possivelmente ligada a lesões vasculares renais crônicas.
  • Exposição ocupacional a produtos químicos, como solventes, derivados do petróleo, pesticidas e metais pesados.
  • Doença renal crônica e diálise de longa duração.

Sinais e sintomas

Exemplo de hematúria macroscópica
Exemplo de hematúria macroscópica. Fonte: Blog Dr. Mário Paranhos 

O carcinoma de células renais é frequentemente assintomático nos estágios iniciais e é diagnosticado incidentalmente em exames de imagem. Nos estágios mais avançados, pode apresentar:

Tríade clássica (menos comum hoje devido ao diagnóstico precoce):

  • Hematúria macroscópica
  • Dor lombar ou abdominal
  • Massa palpável no flanco

Síndromes paraneoplásicas

  • Hipercalcemia: causada pela produção ectópica de hormônios ou citocinas
  • Policitemia: devido a produção excessiva de eritropoetina
  • Hipertensão arterial: devido à ativação do sistema renina-angiotensina

Sintomas sistêmicos

  • Febre
  • Fadiga
  • Perda de peso

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Diagnóstico de carcinoma de células renais

Tomografia com contraste evidenciando carcinoma de células renais
Tomografia com contraste evidenciando carcinoma de células renais. Fonte: MSD manuals

O diagnóstico de carcinoma de células renais é baseado em uma combinação de exames de imagem e histopatologia:

  • Ultrassonografia abdominal: Frequentemente, é a 1ª linha para a identificação de massas renais;
  • Tomografia computadorizada (TC): Padrão-ouro para caracterização de tumores;
  • Ressonância magnética (RM): Indicada para pacientes com contraindicação ao contraste iodado ou para avaliação detalhada de envolvimento vascular.
  • Biópsia renal: Geralmente reservada para casos com dúvida diagnóstica ou quando o tratamento cirúrgico não é viável.

Estadiamento

Estágio Tumor Metástase linfonodal regional Metástase à distância
I T1 N0 M0
II T2 N0 M0
III T1-T3 N1 M0
T3 N0 M0
IV T4 Qualquer N M0
Qualquer T Qualquer N M1
Estadiamento TNM* da AJCC para carcinoma de células renais. Fonte: MSD manuals

O sistema TNM (Tumor, Nódulo, Metástase) é utilizado para o estadiamento:

  • T (Tumor primário): Classifica o tumor de acordo com o tamanho e extensão local.
  • N (Linfonodos regionais): Avalia a presença de metástases linfonodais.
  • M (Metástases à distância): Determina o acometimento de órgãos à distância, como pulmões, ossos, fígado e encéfalo.
Característica
Definição
Tumor primário
TX Sem informações para avaliar o tumor primário
T0 ≤ 7 cm na maior dimensão. Limitado ao rim
T1 ≤ 4 cm na maior dimensão
T1a > 4 cm, mas ≤ 7 cm na maior dimensão
T1b ≥ 7 cm na maior dimensão
Limitado ao rim
T2 > 7 cm, mas ≤ 10 cm na maior dimensão
T3 > 10 cm na maior dimensão
T3a Estende-se para as principais veias ou invade os tecidos perinéfricos, mas não além da fáscia de Gerota ou da glândula suprarrenal
T3b Estende-se para as veias renais ou seus ramos segmentais ou invade o tecido adiposo perienal e/ou seio renal, mas não além da fáscia de Gerota
T3c O tumor cresce na parte da grande veia que leva ao coração (veia cava) que está dentro do abdome
T4 O tumor cresceu na parte da veia cava que está dentro do tórax ou está crescendo na parede da veia cava
Metástase linfonodal regional
NX Não avaliado
N0 Nenhum
N1 Presente
Metástase à distância
M0 Nenhum
M1 Metástase distante, incluindo disseminação para linfonodos distantes
Tabela TNM para carcinoma de células renais. Fonte: MSD manuals

Qual o tratamento?

O tratamento do carcinoma de células renais depende de vários fatores, incluindo o estágio da doença, a histologia e as condições clínicas do paciente. As principais abordagens incluem:

Cirurgia

Nefrectomia radical

Remoção do rim afetado, incluindo gordura perirrenal e linfonodos regionais, indicada para tumores grandes (≥5 cm) ou localmente invasivos.

Nefrectomia parcial

Preservação do rim remanescente, ideal para tumores pequenos (≤ 4 cm) ou pacientes com função renal comprometida.

Terapias direcionadas

Inibidores da angiogênese 

Sunitinibe, pazopanibe e axitinibe atuam na via VEGF.

Inibidores do mTOR

Everolimo e temsirolimus são utilizados para tumores com mutações específicas.

Imunoterapia

Inibidores de checkpoint imunológico (anti-PD-1 e anti-CTLA-4)

Nivolumab e ipilimumabe demonstraram aumento na sobrevida global em casos avançados.

Terapias locais ablativas

Radiofrequência e crioablação

Indicadas para pacientes não candidatos à cirurgia.

Terapia paliativa

Alívio de sintomas, como dor óssea, utilizando radioterapia ou manejo farmacológico.

Conclusão

O carcinoma de células renais é uma neoplasia complexa que requer um manejo multidisciplinar. O diagnóstico precoce é crucial para melhores desfechos. Avanços em terapias direcionadas e imunoterapia revolucionaram o tratamento, especialmente em casos avançados. Uma abordagem personalizada, centrada no paciente, continua sendo essencial para otimizar a qualidade de vida e a sobrevida.

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