A escala de Hounsfield tem um papel crucial na avaliação dos exames de imagem por tomografia. Por isso, conhecer sua utilidade na interpretação desse exame, bem como compreender como essa é utilizada na prática médica é fundamental.
Em 1972, as primeiras imagens realizadas pela tomografia computadorizada foram apresentadas em um congresso médico pelos cientistas Godfrey Newbold Hounsfield e James Ambrose. A partir disso, esse método de imagem revolucionou a ciência médica, permitindo a realização de diagnósticos mais acurados e precisos.
O que é a escala de Hounsfield?
A escala de Hounsfield (UH) é uma medida utilizada no exame de tomografia computadorizada (TC) para avaliação das densidades de estruturas do corpo humano. Assim, a TC apresenta como princípio básico a emissão de raios-X, permitindo a análise dessas estruturas em diversos cortes axiais e transversais. Observe as imagens abaixo.
A tomografia computadorizada apresenta diversas vantagens em comparação à radiografia simples. Entre elas, sua capacidade de realizar diversos cortes axiais e transversais de todo o corpo humano, como mencionado anteriormente, bem como sua resolução de imagem muito superior. Ao comparar estes dois métodos de imagem, a tomografia computadorizada permite a visualização de cerca de 250 tons de cinza, enquanto a radiografia simples, apenas 25 tons.
Por isso, a criação da escala de Hounsfield foi necessária para facilitar a análise dos coeficientes de atenuação radiológica. Assim, utiliza como parâmetros os valores absolutos de densidade da água, classificada como 0 UH nessa escala. Essa é utilizada como referência devido ao seu coeficiente de atenuação ser similar aos dos tecidos moles do corpo, bem como por se tratar de um material fácil para calibrar a máquina.
Para mais, também se utiliza como referência na escala de Hounsfield a densidade do ar, que corresponde ao valor – 1.000 UH. Assim, a partir dos valores da água e do ar, é possível realizar a mensuração da densidade dos demais tecidos avaliados no corpo humano. Observe a tabela abaixo com as principais estruturas avaliadas na TC e seus valores de densidade na escala.
Para o que serve?
O conhecimento da densidade na tomografia computadorizada permite uma melhor avaliação das estruturas que objetivam ser estudadas, bem como uma maior acurácia diagnóstica. Assim, são empregados alguns termos para classificar as estruturas avaliadas.
A escala de Hounsfield faz menção à transparência dos tecidos do corpo humano avaliados. Dessa forma, dizem respeito a capacidade das estruturas de absorver as passagens do raio-X. Por isso, são consideradas hipodensas estruturas como os pulmões que, por estarem cheios de ar, permitem grandes passagens dos raios ionizantes. Essas apresentam-se mais pretas no exame de imagem.
Ao contrário, estruturas que não permitem grande passagem dos raios-X e, por isso, apresentam-se mais brancas na tomografia computadorizada, são consideradas hiperdensas. São exemplos de estruturas hiperdensas os ossos. Observe a imagem abaixo.
E mais, quando as densidades entre duas estruturas são semelhantes, diz-se que são isodensas ao exame. Observe o exemplo abaixo.
Entretanto, entre as densidades dos pulmões e dos ossos, há diversas outras estruturas que necessitam ser avaliadas. Entre elas, músculos, tendões e vísceras abdominais. Dessa forma, a escala de Hounsfield permite a reconstrução da imagem em diferentes densidades, permitindo uma melhor visualização dessas estruturas.
Como aplicar na prática médica?
A tomografia computadorizada oferece diversas vantagens em comparação a outros exames de imagem, como a radiografia simples, a ultrassonografia, e até mesmo a ressonância magnética. A escolha do melhor método de imagem para o caso do paciente deve ser sempre individualizada. Assim, as principais vantagens são:
- Possibilidade de análise das imagens sem superposição de estruturas;
- Capacidade de detectar diferenças de densidade entre tecidos, por meio da análise dos valores numéricos do coeficiente de atenuação da escala de Hounsfield;
- Possibilidade de processar imagens em diversos tempos, devido a capacidade de armazenamento de dados;
- É um método não invasivo de diagnóstico;
- Torna possível que procedimentos invasivos, como biópsias e punções, possam ser realizados durante a execução do exame, facilitando esses procedimentos e oferecendo menos riscos ao paciente.
Além disso, devido ao olho humano não conseguir distinguir entre os diversos tons de cinza existentes, a tomografia computadorizada permite o uso da técnica das janelas (windowing).
Esse método permite a visualização de estruturas em determinadas faixas de densidade, fazendo com que estudos com janelas estreitas apresentem menor escala de cinza. Enquanto janelas largas favorecem maiores escalas de cinza e pouco contraste entre as estruturas. Observe as imagens abaixo.
Desvantagens da tomografia computadorizada
Por fim, são desvantagens importantes da tomografia computadorizada, que devem ser consideradas ao solicitar o exame:
- Maior utilização de radiação ionizante, em comparação com a radiografia simples. Assim, é contraindicada em mulheres grávidas;
- Faz-se necessário uso de contraste iodado para diferenciar vasos de alças intestinais, podendo limitar seu uso para pacientes com insuficiência renal, por exemplo;
- É um método mais caro que a radiografia simples.
Conclusão
O conhecimento sobre a escala de Hounsfield é fundamental para todo médico. Isso porque o reconhecimento das densidades das estruturas na tomografia de tórax é uma habilidade crucial na interpretação de diversos exames radiográficos, especialmente a tomografia computadorizada!
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FONTES:
- MELLO, C. F. J. Radiologia básica. 2ª edição. Rio de Janeiro: Revinter, 2016.
- MARCHIORI, E. SANTOS, M. L. Introdução à Radiologia. 2ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.