As doenças exantemáticas são um grupo de doenças infecciosas que causam um quadro de exantema, mais comum em crianças, geralmente benigno e autolimitado e o diagnóstico costuma ser clínico. Por causarem um quadro semelhante, é importante a diferenciação das principais doenças exantemáticas entre si.
Neste post vamos abordar quais são as principais doenças exantemáticas, suas principais características, como diagnosticar e tratar!
O que são as doenças exantemáticas?
As doenças exantemáticas correspondem a um grupo de doenças de origem infecciosa, geralmente de evolução benigna, caracterizadas por um quadro de exantema com ou sem febre. O exantema são manchas eritematosas disseminadas na pele de evolução aguda. São doenças típicas da faixa etária pediátrica.
Tipos de doenças exantemáticas e seus tratamentos
As principais doenças exantemáticas são:
Sarampo
O sarampo é uma doença viral causada pelo RNA vírus do gênero Morbilivirus. É uma doença de alta transmissibilidade, por via oral na forma de aerossol, principalmente 2 dias antes e 2 dias após o surgimento do exantema. O seu período de incubação varia de 7 a 21 dias. O quadro clínico pode ser dividido em 3 fases: pródomos, fase exantemática e fase de remissão.
A fase prodrômica é a inicial, com duração de 2 a 4 dias. As manifestações clínicas incluem febre alta, mal estar, conjuntivite, coriza e tosse. Nessa fase, pode aparecer as manchas de Koplik, um sinal patognomônico que são lesões brancas com halo eritematoso na mucosa bucal, que costumam desaparecer entre 12h e 72h.
Depois, surge a fase exantemática, quando ocorre piora da febre e dos sintomas, com o aparecimento dos exantemas. O exantema é maculopapular eritematoso, com distribuição cefalocaudal e centrípeta, de início retroauricular com progressão para tronco e membros, acometendo extremidades.
Por fim, chega-se à fase de remissão, com diminuição dos sintomas e declínio da febre. O exantema escurece e descama de forma fina, em aspecto de farinha furfurácea. As complicações podem surgir na fase exantemática em cerca de 30% dos casos, em indivíduos de maior risco, sendo as mais comuns otites médias bacterianas agudas, ceratite, diarreia e apendicite.
O diagnóstico é levantado com suspeita clínica e confirmado com detecção de IgM e IgG pelo teste ELISA em amostra sanguínea. Se confirmado, é uma doença de notificação obrigatória. O tratamento é de suporte, sendo a administração de vitamina A indicada para reduzir complicações.
A prevenção pré-exposição do sarampo é feita por meio das vacinas tríplice viral e tetra viral. Já a prevenção pós-exposição é feita com a tríplice viral se até 3 dias de contato ou imunoglobulina se até 6 dias após o contato ou para aqueles com contraindicação a vacina.
Rubéola
A rubéola é uma doença exantemática causada pelo vírus da família Togaviridae, do gênero Rubivirus, podendo causar a forma adquirida e a forma congênita. A transmissibilidade da forma adquirida é pela via aérea (gotículas), sendo transmissível 5 a 7 dias antes e depois do surgimento do exantema.
Os quadros da rubéola adquirida costumam ser leves, maioria assintomáticas, mas quando presentes são febrícula, astenia, adenopatia retroauricular, cervical e occipital e o exantema, que é maculopapular róseo, difuso e puntiforme, de progressão cefalocaudal.
O tratamento é apenas de suporte. A síndrome da rubéola congênita é um quadro bem mais preocupante, capaz de causar malformações, surdez, retardo no crescimento, e, por isso, a vacinação é de grande importância, por meio da tríplice e tetra viral.
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Roséola infantil (Exantema súbito)
A roséola infantil, também chamado de exantema súbito, tem como agente etiológico o herpes vírus do tipo 6 e 7. A transmissão ocorre por via aérea (gotículas), ocorrendo durante o período febril. O quadro clínico é iniciado com pródromos, em geral, caracterizado por febre, irritabilidade e podendo haver adenomegalia cervical. A febre é alta com duração de 3 a 5 dias.
O exantema surge subitamente após cessar a febre, de característica maculopapular róseo, dissemina para tronco, membros e face, com duração de horas a 3 dias. O diagnóstico é clínico. O tratamento é de suporte, com sintomáticos. Atualmente, não há vacinas para a roséola infantil.
Varicela (Catapora)
A varicela é uma doença exantemática causada pelo vírus da varicela-zoster, transmitido por aerossol, contato direto ou vertical. A transmissibilidade ocorre de 1 a 2 dias antes do exantema até a formação de crostas. O quadro clínico é caracterizado por febre, astenia e anorexia, seguido pelo exantema que se inicia como máculas, pápulas, vesículas, pústulas e até crostas. Numa mesma região, é possível, ainda, encontrar lesões em diferentes fases de evolução. Acomete também mucosas e couro cabeludo e há prurido intenso associado.
O diagnóstico é clínico. O tratamento é de suporte com sintomáticos, podendo associar aciclovir em imunossuprimidos, pneumopatas, maiores de 12 anos e pessoas com doenças dermatológicas crônicas. As complicações mais comuns, nos casos mais severos ou mal tratados, incluem: encefalite, pneumonia e infecção de pele e ouvido. A prevenção pré-exposição é feita com a vacina tetra viral e como profilaxia pós-exposição pode ser feita a vacina se até 5 dias de contato ou a imunoglobulina se até 4 dias.
Escarlatina
A escarlatina é uma doença causada pela bactéria estreptococo beta-hemolítico do grupo A (S. pyogenes). A transmissão é por gotículas ou secreções infectadas, principalmente durante os pródomos até 24h após o início do tratamento. Se inicia de forma súbita com febre alta, mal-estar, vômitos, dor abdominal e cefaleia. Pode ocorrer também odinofagia com amígdalas hiperemiadas com exsudato e adenomegalia cervical e submandibular dolorosa.
A língua se apresenta em aspecto de framboesa e a orofaringe avermelhada. O exantema costuma surgir com 2 dias, como micropápulas não confluentes eritematoso e áspero pelo corpo, se iniciando no tronco e se estendo para membros. Os sinais típicos da escarlatina são o sinal de Pastia, caracterizado por dobras cutâneas vermelhas, e sinal de Filatov, caracterizado por palidez perioral.
O diagnóstico desta doença exantemática é clínico. O tratamento é feito com penicilina G benzatina e é de grande importância para prevenir glomerulonefrite difusa aguda pós-estreptocócica e febre reumática. Não existe vacina para a escarlatina.
Doença de Kawasaki
A doença de Kawasaki é uma doença não infecciosa, de etiologia desconhecida, podendo ter um gatilho infeccioso associado, sendo mais comum em crianças de 1 a 4 anos. Vale salientar que é a segunda vasculite mais comum na infância, acometendo principalmente vasos de médio calibre.
É caracterizada por febre por pelo menos 5 dias e 4 dos 5 critérios:
- Conjuntivite bilateral não purulenta;
- Alteração de cavidade oral (língua em framboesa, eritema e edema de orofaringe).
- Alterações de extremidades (eritema e edema);
- Exantema escarlatiniforme;
- Morbiliforme ou polimórfico; e
- Linfonodomegalia cervical unilateral.
Quando não se fecha critério, pode-se pensar em doença de Kawasaki incompleto, devendo ser solicitado PCR e VHS. Se alterados, o diagnóstico pode ser dado laboratorialmente se o ECO estiver alterado ou se forem identificadas pelo menos 3 alterações: albumina < 3 g/dl, anemia, leucócitos > 15000, plaquetas > 450000, TGO/TGO>50 e leucocitúria. O tratamento é feito com AAS 30 a 50 mg/kg/dia com imunoglobulina 2g/dia por pelo menos 10 dias.
Arboviroses
As arboviroses, como dengue, chikungunya e zika, também podem causar um quadro de exantema, principalmente a dengue. São erupções maculopapulosas, podendo aparecer antes ou depois da efervescência da febre. Com a evolução da doença, podem aparecer também petéquias nas pele e mucosas, que evidenciam sinal de plaquetopenia. Para diferenciar o exantema da dengue dos demais, é importante correlacionar outros sintomas mais importantes da doença: os sintomas constitucionais, como febre, cefaleia, mialgia, dor retro-orbitária.
Conclusão
As doenças exantemáticas são doenças, no geral infecciosas, sendo a maioria causada por vírus, caracterizadas por quadro de exantema associado ou não à febre. São doenças típicas da infância, sendo importante o diagnóstico diferencial. A maioria é de diagnóstico clínico e o tratamento depende da etiologia.
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FONTES:
- VELASCO, Irineu; et. al. Medicina de Emergência – Abordagem Prática. 15ª edição. 2022. Medicina USP.
- Doenças exantemáticas febris. DIVE.