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26/10/24

Doença hepática gordurosa não alcoólica: manifestações clínicas e tratamento

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Doença hepática gordurosa não alcoólica: manifestações clínicas e tratamento

A Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica é um distúrbio do fígado que surge como consequência de distúrbios metabólicos que levam à deposição de gordura no seu parênquima. Seu surgimento ocorre por lesões contínuas que podem ser primárias ou secundárias. Seu manejo está intimamente ligado com o controle dessas comorbidades subjacentes. Vamos revisar aspectos clínicos e fisiopatológicos dessa condição!

O que é a doença hepática gordurosa não alcoólica?

A Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA) é uma desordem metabólica caracterizada por acúmulo de gordura no parênquima hepático, acometendo 25% da população mundial. Ela tem se tornado cada vez mais frequente, devido às mudanças de hábitos do novo século. Além disso, o uso da ultrassonografia de abdome no exame de rotina possibilitou aumento do número de diagnósticos.

A ecogenicidade do fígado normal é muito semelhante à do parênquima renal. Nessa USG, o fígado se encontra hiperecoico em comparação ao rim, evidenciando um achado de esteatose hepática. Fonte: Radiologia Brasileira
A ecogenicidade do fígado normal é muito semelhante à do parênquima renal. Nessa USG, o fígado se encontra hiperecoico em comparação ao rim, evidenciando um achado de esteatose hepática. Fonte: Radiologia Brasileira

Fatores de risco

Os fatores de risco associados à doença podem ser primários ou secundários. Sendo assim, a obesidade central e sobrepeso, diabetes mellitus, dislipidemia e hipertensão arterial compõem os principais fatores de risco primários. A hepatite C crônica, síndrome de ovários policísticos, hipotireoidismo, síndrome da apneia do sono, hipogonadismo e o uso de esteroides e anabolizantes são exemplos de fatores de risco secundários da DHGNA.

FATORES DE RISCO PARA A DHGNA
PRIMÁRIOS SECUNDÁRIOS
Obesidade central
Sobrepeso
Diabetes Mellitus
Dislipidemia
Hipertensão Arterial Sistêmica
Hepatite C crônica
Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP)
Hipotireoidismo
Síndrome da Apneia e da Hipopneia Obstrutiva do Sono (SAHOS)
Hipogonadismo
Esteroides
Anabolizantes
Fatores de risco para o desenvolvimento de Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica, divididos em Primários e Secundários. Fonte: EMR/Fernanda Vasconcelos

A DHGNA é uma doença de etiologia multifatorial, e sua patogênese pode ser explicada pela hipótese de “múltiplos golpes”. Desse modo, o primeiro golpe é caracterizado por aumento de ácidos graxos livres nos hepatócitos devido à lipólise com aumento de ácidos graxos circulantes e resistência insulínica periférica. Caso fatores de risco não sejam controlados, haverá mais formação de gordura (lipogênese) e consequente perpetuação do quadro.

O segundo golpe ocorre devido a toxicidade promovida pelos ácidos graxos livres, provocando estresse oxidativo, disfunção mitocondrial e liberação de citocinas pró-inflamatórias. Por fim, o terceiro golpe é consequência desse estresse oxidativo: há inibição da formação de novos hepatócitos maduros, aumentando o número de células progenitoras. Isso predispõe a formação do carcinoma hepatocelular (CHC).

Manifestações clínicas para a doença hepática gordurosa não alcoólica

A maioria dos pacientes com essa doença são assintomáticos. Entretanto, sintomas inespecíficos como fadiga e dor abdominal no quadrante superior direito podem estar presentes. No exame físico, o achado mais comum é a hepatomegalia. É necessário a aferição da pressão arterial e a realização de exames antropométricos como o cálculo do IMC. A medida da circunferência abdominal também é importante, pois pode ser indicativa de presença de gordura visceral.

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Diagnóstico 

Fluxograma de critérios diagnósticos para a Esteatose Hepática. Fonte: Eu Médico Residente
Fluxograma de critérios diagnósticos para a Esteatose Hepática. Fonte: Eu Médico Residente

O diagnóstico da DHGNA pode ser fechado através de alguns exames: biópsia hepática (onde observamos presença de vacúolos lipídicos em torno de hepatócitos), exames de imagens ou de biomarcadores sanguíneos. Esses devem estar associados a pelo menos um dos seguintes critérios: presença de sobrepeso ou obesidade, diabetes mellitus tipo II ou evidência de disfunção metabólica (vide fluxograma acima).

 A USG de abdome é o exame de imagem de escolha para o diagnóstico de esteatose hepática, entretanto, a sensibilidade do exame é diminuída caso a esteatose seja menor do que 20% e é menos eficaz em pacientes com índice de massa corporal maior que 40kg/m2.

Lâmina histológica evidenciando presença de vacúolos lipídicos em torno de hepatócitos. Por serem hidrofóbicos, os vacúolos não são capazes de se misturar ao citoplasma dos hepatócitos e, quando volumosos, deslocam o núcleo dessas células para as periferias. Fonte: Anatpat Unicamp
Lâmina histológica evidenciando presença de vacúolos lipídicos em torno de hepatócitos. Por serem hidrofóbicos, os vacúolos não são capazes de se misturar ao citoplasma dos hepatócitos e, quando volumosos, deslocam o núcleo dessas células para as periferias. Fonte: Anatpat Unicamp

Tratamento para a doença hepática gordurosa não alcoólica

O tratamento para a doença hepática gordurosa não alcoólica envolve uma combinação de mudanças no estilo de vida e, em alguns casos, intervenções médicas. A perda de peso é ponto chave do manejo, com uma meta de redução entre 7% a 10% do peso corporal. O regime de dieta balanceada é a base para a perda de peso de maneira saudável. Além disso, a prática regular de  atividade física de pelo menos 150 minutos de exercícios moderados por semana é o ideal.

O controle de comorbidades associadas também é importante. O uso de estatinas ou outros medicamentos pode ser necessário para controlar os níveis de colesterol e triglicerídeos, assim como um manejo da pressão arterial e da glicemia. Embora não existam medicamentos especificamente aprovados para a DHGNA, alguns tratamentos estão sendo investigados, como o ácido ursodesoxicólico, probióticos, e fármacos anti-inflamatórios e antifibróticos.

Conclusão

O diagnóstico diferencial da doença hepática gordurosa não alcoólica deve ser feito com a hepatite gordurosa alcoólica, hepatites virais, doença de Wilson e hepatites medicamentosas. Ademais, pacientes que evoluem para quadros de cirrose e CHC podem apresentar náusea, vômitos, icterícia, ascite e anorexia. O tratamento consiste na imunização contra as hepatites A e B, abstinência de álcool, perda de peso e controle dos fatores de risco.

Leia mais:

FONTES:

  • Kudaravalli P, John S. Nonalcoholic Fatty Liver - StatPearls - NCBI Bookshelf
  • Kudaravalli P, John S. Nonalcoholic Fatty Liver. 2020 May 28. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021 Jan–. PMID: 31082077.
  • Eslam M, et al. A new definition for metabolic associated fatty liver disease: an international expert consensus statement. J Hepatol. 2020; 73 (1):202-209.
  • FILHO, G. B. Bogliolo Patologia. 9 ed. Minas Gerais: Guanabara Koogan, 2016.
  • Tommolino, E., MD. (n.d.). Fatty Liver: Overview, etiology, epidemiology.