A Doença de Paget é uma condição endocrinológica que é marcada por um aumento gradual do tamanho dos ossos, levando à deformidade e à dor. O impacto pode variar significativamente de pessoa para pessoa, sendo mais comum em idosos e a extensão da destruição óssea está geralmente relacionada com a idade. Em alguns casos, a doença pode ser assintomática, enquanto em outros pode causar dor e incapacidade significativa.
Vamos compreender mais detalhes do quadro clínico da Doença de Paget!
O que é a Doença de Paget?
A Doença de Paget é um distúrbio ósseo crônico caracterizado por áreas focais de aumento na remodelação óssea, resultando na hiperproliferação do osso de maneira desorganizada que pode afetar todo o esqueleto.
Os fatores de risco para o desenvolvimento dessa condição incluem a idade avançada (especialmente acima de 50 anos), fatores genéticos e infecções, como a do Sarampo. Além disso, a predisposição para a doença parece ter componente autossômico dominante, com associação do cromossomo 18q. Apesar de não ser uma condição tão prevalente na sociedade, dentro do ramo da Endocrinologia ela é a segunda doença óssea mais comum, ficando atrás apenas da Osteoporose.
Por fim, ela tende a ter uma predileção discreta pelo sexo feminino em uma proporção de 1,4:1.
A Doença de Paget mais comumente é monóstica (atingindo apenas um osso por vez) em mais de 50% dos pacientes. Os ossos que podem ser afetados são: pelve, fêmur, coluna lombar, crânio e tíbia. Ela tende a ser uma patologia silenciosa e assintomática, principalmente em seus estágios iniciais.
Quais são as causas?
As causas da Doença de Paget ainda não são completamente compreendidas pelos médicos, mas entende-se que pode estar relacionada a infecções virais latentes, fatores genéticos (mutação do cromossomo 18q) e gatilhos ambientais. Algumas evidências indicam que a infecção pelo Paramixovírus e Morbillivirus (patógeno do Sarampo) podem ser uma possível causa da doença.
Apesar das causas incertas, a fisiopatologia é bem entendida. Ela se caracteriza por um processo de intensa reabsorção seguida de expansão do tecido ósseo. Essa desregulação da remodelação óssea pode levar a deformidades ósseas, compressão dos nervos, fraturas patológicas e alterações biomecânicas nas articulações.
Além disso, a doença se desenvolve como resultado de uma disfunção na homeostase óssea, especialmente na regulação do fluxo sanguíneo e do metabolismo ósseo. Ainda em nível celular, o componente de mutação genética da doença irá causar distúrbios dos receptores da Vitamina D no osso, o qual é parte fundamental de sua regulação de crescimento.
Sintomas da Doença de Paget
Os sintomas mais comuns da Doença de Paget são dor nos ossos, principalmente nas pernas, deformidade e dor nas articulações, deformação nas pernas (Genu Varo), fraturas ósseas frequentes, hiperlordose ou cifose, osteoporose, e surdez causada por compressão do N. Vestibulococlear pela expansão óssea craniana. Lembrando que os sintomas tendem a surgir em estágios mais avançados da doença, podendo passar despercebidos no seu início.
Além disso, também pode haver alteração do mamilo e da auréola que causa vermelhidão, com escamas ou crostas e descarga mamilar. Por também acometer os ossos do sistema nervoso (tanto crânio quanto coluna lombar), podem ocorrer distúrbios neurológicos tanto do SNC quanto de nervos periféricos.
Complicações
As complicações da Doença de Paget podem incluir dor óssea, artrite, fraturas, deformidades ósseas, compressão nervosa e insuficiência cardíaca. Além disso, pode haver perda auditiva devido à compressão de nervos, dor de cabeça, postura curvada (cifose), dormência ou fraqueza por compressão de nervos da medula espinhal. Em casos raros, o distúrbio pode também contribuir para o desenvolvimento de câncer ósseo, que costuma ser do tipo Osteossarcoma e acomete menos de 1% dos pacientes.
A Insuficiência Cardíaca (IC) irá ocorrer pois um dos pilares da fisiopatologia de hiperproliferação óssea é a sobrecarga de fluxo sanguíneo para os ossos. Visto isso, ocorrerá uma má distribuição de sangue a nível sistêmico, levando a uma IC.
Como é realizado o diagnóstico?
O diagnóstico da Doença de Paget pode ser confirmado por radiografias mostrando as alterações características e através de um nível elevado de fosfatase alcalina sérica isolado que levanta suspeita da doença. Na maioria dos casos, o diagnóstico também pode ser feito através da combinação dos sintomas, achados radiológicos e elevação da concentração de fosfatase alcalina. Para mais, a biópsia óssea é o teste confirmatório definitivo, mas ela raramente é necessária.
Os achados do Raio-X característicos são:
- Lesões líticas em formato de "V" em ossos longos e Osteoporose circunscrita no crânio em estágios iniciais da doença.
- Espessamento cortical e aumento da marcação trabecular em estágios mais avançados.
- Esclerose e aumento da área óssea (principalmente coluna vertebral e ossos longos) em estágios mais tardios.
A medição da Fosfatase Alcalina Sérica Total é o exame de marcador bioquímico mais utilizado, sendo um indicativo do aumento do Turnover Celular Ósseo. Ela vai marcar o nível de atividade da doença, além de ser utilizada posteriormente para avaliar a resposta ao tratamento. Lembrando que deve ser sempre avaliado junto ao quadro clínico, pois seu aumento pode ocorrer em outras condições não associadas.
Tratamento da Doença de Paget
O tratamento varia de acordo com a gravidade dos sintomas, mas geralmente consiste em fisioterapia, uso de medicamentos como bifosfonatos, alimentação saudável, controle de sintomas e, em alguns casos, cirurgia.
A fisioterapia deve ser orientada individualmente por um fisioterapeuta e deve incluir exercícios de alongamento e fortalecimento muscular, além de estimular o equilíbrio. O nutricionista poderá indicar o consumo de alimentos ricos em cálcio e vitamina D, como leite, queijos, iogurte, peixes e ovos.
Por fim, o uso de medicamentos como bifosfonatos se faz necessário para alívio da dor e redução da atividade osteoclástica excessiva.
- Bisfosfonatos: é a classe medicamentosa mais comumente usada, principalmente nas drogas que contém Nitrogênio (amino-bisfosfonatos). Tendem a reduzir a Fosfatase Alcalina, suprimir o turnover ósseo e controlam as dores do aparelho locomotor. É também eficaz como um controle das complicações de Paget, como insuficiência cardíaca, prevenção de piora no déficit auditivo, dor articular e dificuldade de deambulação.
- Principais drogas da classe: Zoledronato, Pamidronato, Risedronato e Alendronato.
- Suplementação medicamentosa: a administração dos Bisfosfonatos deve ser acompanhada de suplementos de Cálcio e Vitamina D.
As cirurgias decorrentes da afecção são necessárias para conter deformações ósseas e outras complicações da condição, como fraturas e estenose espinhal. As opções cirúrgicas incluem osteotomia, reparo de trauma e prótese articular em casos de osteoartrite avançada.
Conclusão
A Doença de Paget é um distúrbio crônico da remodelação óssea caracterizado pelo aumento da reabsorção, da formação e da remodelação óssea, que podem causar grandes deformidades nos ossos longos e no crânio, bem como sintomas neurológicos, dor óssea, perda auditiva e fraturas patológicas.
O diagnóstico é feito com base na história, exame físico, fatores diagnósticos, fatores de risco, radiografias e testes laboratoriais como a medição sérica de Fosfatase Alcalina. O tratamento é baseado nos bifosfonatos para retardar a atividade osteoclástica excessiva, bem como fisioterapia, cirurgia, próteses e terapia adjuvante.
Leia mais:
- Residência em Endocrinologia: Rotina, Atuação e Remuneração
- A osteomielite vertebral é mais observada em homens
- Fraturas Pélvicas: tudo que você precisa saber
FONTES:
- DynaMed. Paget Disease of Bone. EBSCO Information Services.
- Martins, Mílton de, A. et al. Clínica Médica, Volume 5: Doenças Endócrinas e Metabólicas, Doenças Osteometabólicas; Doenças Reumatológicas. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Editora Manole, 2016.