Os primeiros casos de uma pneumonia misteriosa foram relatados em dezembro de 2019, em Wuhan, na China. Posteriormente a pneumonia foi identificada como um dos sintomas graves da Covid-19. Por isso, a cidade está servindo como berço de um estudo voltado para o acompanhamento de pacientes que foram para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O estudo foi publicado no periódico Chest Physician, no dia 22 de fevereiro, a fim de determinar quais os problemas de saúde persistentes após seis meses da alta hospitalar.
A pesquisa
Essa pesquisa surgiu a partir de uma outra que identificou quais as características clínicas dos sobreviventes a Covid-19, diagnosticados com pneumonia. Assim, observaram que os pacientes com a doença grave, após seis meses, ainda não haviam recuperado a função pulmonar e imunitária. Além disso, outros ainda estão com sequelas físicas e com diferentes graus de transtornos psiquiátricos.
Sendo assim, o estudo lançado no periódico Chest Physician teve como objetivo observar a evolução clínica de pacientes graves provenientes de 4 hospitais em Wuhan. Dessa maneira, foram em busca de pacientes que tinham sido internados na UTI de adultos e precisaram de ventilação mecânica, invasiva ou não. E ainda, participaram do estudo os indivíduos com alta concentração de FiO2 (fração de oxigênio inspirado) ou que necessitaram de infusão venosa de vasopressores.
Baseados nesses critérios, acompanharam durante três meses 92 pacientes e durante seis meses 72 deles foram avaliados. Para esse acompanhamento, todos eles fizeram testes de função pulmonar, tomografia do tórax e o “teste de caminhada de seis minutos”. Além disso, a fim de avaliar a qualidade de vida em relação à saúde dos indivíduos, utilizaram o questionário SF-36.
Já as avaliações cognitivas e psicológicas se deram por meio de instrumentos como o mini exame do estado mental e avaliação cognitiva de Montreal. E ainda, foi realizada uma leucometria juntamente com ensaios de função leucocitária para observar a função imunológica. Ademais, a ansiedade e a depressão foram avaliadas pela escala de auto avaliação da ansiedade de Zung e a escala de classificação de Hamilton.
Pacientes que foram entubados tem a capacidade de difusão do monóxido de carbono diminuída
No acompanhamento dos três meses, os pesquisadores fizeram testes para a imunoglobulina M (IgM). Com isso, constataram que cinco pacientes (5,4%) tiveram resultado positivo e nove (9,8%) tiveram resultado negativo. Quando chegou aos seis meses, a mesma avaliação foi realizada e o resultado foi um pouco diferente. O quantitativo de pessoas com sorologia positiva representava 12,9%, o equivalente a nove indivíduos. Já para a sorologia negativa a taxa chegou a 16,67%, representando 12 pacientes.
De maneira geral, os pacientes afirmaram apresentar sinais e sintomas como: taquipneia ao realizar esforço (54%), palpitação (51,8%), fadiga (44,6%) e artralgia (20,5%). Para além disso, foi observado também que a população entubada teve um pior desempenho no teste de função pulmonar. E mais, a capacidade de difusão do monóxido de carbono (CDCO) diminui substancialmente.
Os níveis de células B também foram baixos entre esse grupo na avaliação dos três e seis meses, assim como os subconjuntos de células T. As pessoas entubadas também apresentaram hiperfunção dos linfócitos T e hipofunção das células natural killer. Dito isso, essas conclusões foram obtidas através da comparação com o grupo de pessoas não entubadas.
A incidência de depressão mais que dobrou passados seis meses da hospitalização causada pelo coronavírus
Em relação à disfunção cognitiva, ela melhorou significativamente ao longo dos seis meses. Dessa maneira, na primeira avaliação acometia 12,8% dos indivíduos, no entanto, na segunda apenas 12,9% da população relatava alguma disfunção. Essa diminuição significativa não foi observada em relação a depressão e ansiedade.
Os relatos de pacientes com depressão chegaram a 47,8% aos seis meses. Com isso, pode-se afirmar que a incidência cresceu vertiginosamente, uma vez que, aos três meses, ela acometia apenas 20% da população de estudo. Ademais, a ansiedade sofreu um discreto aumento entre três (15,6%) e seis meses (17,6%).
Um estudo irlandês corrobora com os achados do estudo realizado em Wuhan. Isso porque, dos 150 sobreviventes à infecção causada pelo coronavírus, 60% deles afirmaram não ter recuperado totalmente a saúde. Essa pesquisa observa que nem todos os pacientes tiveram Covid-19 grave ou foram internados na UTI.
Por fim, mais dados estão sendo coletados para a pesquisa chinesa, a fim de fazer o acompanhamento de um ano.