Como tudo começou...
Foi na cidade de Wuhan, província de Hubei, na China, que se iniciou um surto de infecção respiratória de causa desconhecida por volta de dezembro de 2019. Após sequenciamento por cientistas chineses em janeiro de 2020, viram que se tratava de uma nova cepa de Coronavírus, primeiramente denominada de 2019-nCoV, passando para COVID-19 em 11 de fevereiro de 2020(1).
Posteriormente, como é de conhecimento geral, esse surto evoluiu para uma epidemia e, em 11 de março de 2020, para uma pandemia(2). Hoje, temos confirmados casos no Brasil ( http://plataforma.saude.gov.br/novocoronavirus/#COVID-19-brazil )(3) e no mundo (https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/situation-reports )(4). Os números mudam (e aumentam) constantemente.
O Coronavírus e sua transmissibilidade
Trata-se de um vírus de RNA com uma capacidade de transmissão alta (Figura 1), com um período de transmissibilidade de 7 dias após o início dos sintomas. Há, no entanto, relatos de transmissão antes mesmo deles(5). O Coronavírus como um todo pode contaminar animais como aves, camelos, morcegos e fazer deles hospedeiros da doença. No caso específico do COVID-19, o animal apontado provável é o pangolim(6).
No ambiente, ele pode durar até 3 horas suspenso no ar, 24 horas em papel ou papelão e 2 a 3 dias em plásticos ou aço inox(7). Por isso, a higienização das mãos e sua ampla divulgação torna-se imprescindível nesse momento.
Como suspeitar da doença?
Para identificar o paciente suspeito, definições operacionais são necessárias para guiar a testagem dos pacientes:
Caso suspeito de doença pelo Coronavírus 2019 (covid-19)
Viajante
pessoa que apresente febre E pelo menos um dos sinais ou sintomas respiratórios (tosse, dificuldade para respirar, produção de escarro, congestão nasal ou conjuntival, dificuldade para deglutir, dor de garganta, coriza, saturação de O2 < 95%, sinais de cianose, batimento de asa de nariz, tiragem intercostal e dispneia) E com histórico de viagem para país com transmissão sustentada OU área com transmissão local nos últimos 14 dias;
Contato próximo
pessoa que apresente febre OU pelo menos um sinal ou sintoma respiratório E histórico de contato com caso suspeito ou confirmado para COVID-19, nos últimos 14 dias.
Contato domiciliar
Pessoa que manteve contato domiciliar com caso confirmado por COVID-19 nos últimos 14 dias E que apresente febre OU pelo menos um sinal ou sintoma respiratório. Nesta situação é importante observar a presença de outros sinais e sintomas como: fadiga, mialgia/artralgia, dor de cabeça, calafrios, manchas vermelhas pelo corpo, gânglios linfáticos aumentados, diarreia, náusea, vômito, desidratação e inapetência.
Como é feita a coleta de material para exames?
As amostras laboratoriais (swab nasal) devem ser idealmente realizadas até o 3º dia de doença. No entanto, devido ao processo pandêmico, esse período pode ser aumentado para 7 dias. Será necessária a coleta de 1 amostra, utilizando 3 swabs (2 nasofaringe e 1 orofaringe), lembramos que a indução de escarro deve ser evitada devido ao aumento do risco de transmissão de aerossóis(5).
Apresentação clínica
Seu período de incubação médio é de 5 dias, podendo chegar até 16 dias. O quadro clínico é compatível com uma infecção de vias aéreas superiores, sendo a febre geralmente presente. A tosse tende a ser mais seca e apresenta menos coriza que o usual, a mialgia não é tão frequente quanto a Influenza.(5)
O quinto dia de doença costuma ser o crítico para piora dos sintomas. Pneumopatas, cardiopatas, idosos, pacientes com desnutrição e imunossupressão estão entre os grupos de risco para desenvolver a Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA).(5)
Saiba mais sobre as características cínicas da infeção pelo COVID-19
Como se proteger em ambiente hospitalar?
Quanto a medidas de precaução, principalmente diante da situação mundial de estoque limitado de máscara N95 e PFF2, a máscara cirúrgica é a mais recomendada, constituindo uma precaução de gotícula. Entretanto, diante de situações que produzem aerossol (nebulização, intubação, broncoscopia, aspiração aberta de via aérea, ressuscitação cardiopulmonar, etc) o uso da N95 ou PFF2 é mandatório(5,8).
Perspectivas futuras...
É um momento de turbulência para todos, alguns municípios cancelaram aulas, cancelaram visitas em penitenciárias; pessoas que voltam de viagem estão tendo que ficar 7 dias de quarentena em suas casas. O pânico está sendo o maior inimigo nessa pandemia, e nós, médicos, temos que combater essa histeria.
Referências
- Outbreak of acute respiratory syndrome associated with a novel coronavirus, China; First cases imported in the EU/EEA; second update. 2020.
- Naming the coronavirus disease (COVID-19) and the virus that causes it [Internet]. [cited 2020 Mar 16]. Aqui
- Notificação de casos de doença pelo coronavírus 2019 (COVID-19) - Plataforma Integrada de Vigilância em Saúde - Ministério da Saúde [Internet]. [cited 2020 Mar 16]. Aqui
- Situation reports [Internet]. [cited 2020 Mar 16]. Aqui
- PERNAMBUCO SEDS DE. Protocolo Clínico Epidemiológico do Novo Coronavírus (COVID-19). Vol. 1, Versão No 01. Pernambuco, fevereiro de 2020. 1a edição – Pernambuco, 2020. 2020. 1–31 p.
- Lam TT-Y, Shum MH-H, Zhu H-C, Tong Y-G, Ni X-B, Liao Y-S, et al. Identification of 2019-nCoV related coronaviruses in Malayan pangolins in southern China. bioRxiv. 2020 Feb 18;2020.02.13.945485.
- Neeltje van Doremalen, Trenton Bushmaker, Dylan H. Morris, Myndi G. Holbrook, Amandine, Gamble, Brandi N. Williamson, Azaibi Tamin, Jennifer L. Harcourt, Natalie J. Thornburg, Susan I. Gerber, James O. Lloyd-Smith, Emmie de Wit VJM. Aerosol and surface stability of HCoV-19 (SARS-CoV-6 2) compared to SARS-CoV-1. J Chem Inf Model. 2013;53(9):1689–99.
- Infection Control: Severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 (SARS-CoV-2) | CDC [Internet]. [cited 2020 Mar 16]. Aqui