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Publicado em
8/5/24

Coqueluche: o que é, sintomas, diagnóstico e tratamento

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Coqueluche: o que é, sintomas, diagnóstico e tratamento

A coqueluche é uma doença infecciosa de origem bacteriana que teve seu impacto na sociedade muito reduzido com a introdução das vacinas tetravalente e tríplice bacteriana (DTP). Com a ampliação da cobertura vacinal, houve uma diminuição importante dos casos e uma modificação no perfil epidemiológico dos pacientes com a doença. Atualmente, os principais acometidos são crianças menores de 1 ano, seguidos por adolescentes e adultos. 

Nesse post iremos abordar o que é a coqueluche, como se manifesta, o diagnóstico e o tratamento dessa infecção bacteriana.

O que é o coqueluche?

A coqueluche é uma infecção bacteriana causada pela bactéria Bordetella pertussis, sendo uma doença infantil prevenível por vacina. O nome deriva do termo francês "coqueluchon", que significa "pequena tosse", descrevendo o sintoma mais comum e característico dessa doença.

A transmissão ocorre principalmente por secreções respiratórias contaminadas em forma de aerossois, sendo altamente contagiosa e causando doença em torno de 80% dos contatos próximos. O período de transmissibilidade da doença ocorre principalmente entre o 5º dia após início dos sintomas até a 3ª semana da doença.

Epidemiologia

A doença é amplamente distribuída em todo o mundo, com surtos e casos endêmicos ocorrendo regularmente, especialmente em comunidades onde a imunização é baixa. Antes do advento da vacinação generalizada, o problema era uma das principais causas de morbidade e mortalidade infantil em muitos países. 

Apesar dos esforços de vacinação, continua a ser uma preocupação de saúde pública em algumas regiões, especialmente devido ao surgimento de cepas resistentes a antibióticos, devido à diminuição da imunidade conferida pela vacina ao longo do tempo e pela queda das taxas vacinais nas últimas décadas.

Fisiopatologia

A Bordetella pertussis coloniza o trato respiratório superior, particularmente os cílios das células epiteliais das vias aéreas. Ela produz várias toxinas, principalmente a toxina pertussis, que desempenha um papel fundamental na patogênese da doença. Essas toxinas interferem na resposta imunológica do hospedeiro, levando à inflamação das vias aéreas e à produção excessiva de muco. Isso resulta nos sintomas característicos da coqueluche, incluindo tosse paroxística, estridor inspiratório e episódios de apneia.

Ademais, a tosse paroxística, caracterizada por crises súbitas e incontroláveis e produção de som que lembra um “guincho”, ocorre devido a produção da bradicinina, com consequente ativação de nervos sensoriais que provocam o estímulo da tosse.

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Quais são os sintomas da coqueluche?

A coqueluche tem sua forma clínica em três fases, que correspondem à evolução da doença. 

Fase catarral

A primeira fase é a catarral, com duração de 1 a 2 semanas, iniciando de forma insidiosa. O paciente pode apresentar congestão nasal, rinorreia, lacrimejamento, mal-estar, febre pouco intensa e instalação gradual dos surtos de tosse seca noturna, essas aumentam progressiva e gradualmente se tornando diurnas. 

Fase paroxística

A fase paroxística procede a fase catarral, por volta de 10 a 14 dias após o início dos sintomas, e sua principal característica é a presença da tosse, com 5 a 10 tossidas a cada expiração. Durante a inspiração, à medida que o ar atravessa a glote, há formação do característico estridor rápido à inspiração (o som de “guincho”), como mencionado acima. Ademais, o paciente apresenta protrusão da língua e congestão, podendo evoluir para cianose e êmese pós-tosse. Essa fase dura cerca de 6 semanas.

Fase de convalescência

Na fase de convalescência, fase final da coqueluche, o paciente apresenta melhora progressiva da tosse, podendo piorar em caso de infecções respiratórias recorrentes. Tem duração entre 2 e 6 semanas, podendo a tosse persistir por 3 meses. 

Indivíduos vacinados vão apresentar a forma mais leve da doença, com tosse persistente sem paroxismo, som de “guincho” a inspiração e êmese pós-tosse. O principal grupo de risco para a coqueluche são lactentes menores de 6 meses. Eles podem apresentar os sintomas clássicos em conjunto com sinais de gravidade, como apneia, parada respiratória, convulsões e desidratação devido aos vômitos frequentes.

Diagnóstico da coqueluche

O padrão-ouro para diagnóstico da coqueluche é o PCR através da cultura de nasofaringe, devido ao tropismo da bactéria pelo epitélio respiratório. O procedimento deve ser feito idealmente antes do paciente fazer uso da antibioticoterapia, ou até 3 dias após seu início. Além desse método, o leucograma também pode auxiliar no diagnóstico, principalmente em pacientes não vacinados. 

Durante o período catarral ocorre linfocitose acima de 10.000/mm3 e, na fase paroxística, há leucocitose de 30 a 40 mil/mm3. Assim, a presença de linfocitose seguida de leucocitose eleva as suspeitas de coqueluche. Entretanto, em pacientes lactentes e não vacinados, esse pico de linfocitose é inexistente.

O raio-x pode ter utilidade para avaliar outras possíveis complicações, sendo recomendado para crianças menores de 4 anos. A presença de infiltrados pulmonares pode se apresentar como sinal característico, como demonstrado abaixo. O diagnóstico diferencial deve ser feito com outras doenças do trato respiratório, como traqueobronquites, bronquiolites e laringite.

Evolução do raio-X de lactente com coqueluche. Perceba o aumento da opacidade adjacente ao coração, caracterizando o sinal do “coração felpudo”, devido ao infiltrado pulmonar. Fonte: Sopterj: caso fatal de coqueluche em um lactente - Relato de caso. 
Evolução do raio-X de lactente com coqueluche. Perceba o aumento da opacidade adjacente ao coração, caracterizando o sinal do “coração felpudo”, devido ao infiltrado pulmonar. Fonte: Sopterj: caso fatal de coqueluche em um lactente - Relato de caso

Tratamento da coqueluche 

O tratamento é feito preferencialmente com a azitromicina, 10 mg/kg/dia, com 1 dose por dia durante 5 dias. É a droga de escolha para crianças menores de um mês de idade, e para gestantes ou puérperas que apresentaram tosse por 5 dias e entraram em contato prévio com a bactéria. A claritromicina é uma droga de segunda escolha, devendo ser usada de 12 em 12 horas, por 7 a 10 dias, com a dose variando de acordo com a idade.

O tratamento hospitalar, com isolamento respiratório, é reservado para lactentes com infecção grave. O isolamento é mantido até o 5º dia de tratamento com antibióticos.

PRIMEIRA ESCOLHA: AZITROMICINA
Idade Posologia
< 6 meses 10 mg/kg em uma dose durante 5 dias
É o preferido nessa faixa etária
≥ 6 meses 10 mg/kg (máximo de 500 mg) em uma dose no 1º dia e 5 mg/kg (máximo de 250 mg) em uma dose do 2º ao 5º dia
Adultos 500 mg no D1 e 250 mg do D2 ao D5
SEGUNDA ESCOLHA: CLARITROMICINA
Idade Posologia
< 1 mês Não recomendado
1 a 24 meses ≤ 8kg: 7,5 mg/kg de 12/12 horas por 7 dias
> 8 kg: 62,5 mg de 12/12 horas por 7 dias
3 a 6 anos 125 mg de 12/12 horas por 7 dias
7 a 10 anos 187,5 mg de 12/12 horas por 7 dias
≥ 10 anos 250 mg de 12/12 horas por 7 dias
Adultos 500 mg de 12/12 horas por 7 dias
Esquema com doses para tratamento com azitromicina e claritromicina. Fonte: Ministério da Saúde, 2019

A principal forma de prevenção da coqueluche é por meio da vacinação na infância, com as 5 doses da vacina acelular contra a coqueluche (embutida nas vacinas tetravalente e tríplice bacteriana) com a imunidade natural durando aproximadamente 20 anos. Quanto à profilaxia pós-exposição, deve-se administrar antibióticos nos contatos domiciliares em até 21 dias do início da tosse no primeiro paciente, independentemente de terem sido vacinados ou não.

Conclusão

Com a implementação das vacinas tetravalente e tríplice bacteriana (DPT), a incidência e o impacto da coqueluche na sociedade diminuíram significativamente. No entanto, apesar da melhoria na cobertura vacinal, a coqueluche continua a ser uma preocupação de saúde pública, especialmente devido à emergência de cepas resistentes a antibióticos e à diminuição da imunidade conferida pela vacina ao longo do tempo. 

Atualmente, a doença afeta principalmente crianças menores de 1 ano, adolescentes e adultos, destacando a importância contínua da conscientização, vacinação e tratamento adequado para controlar sua disseminação e proteger os grupos vulneráveis.

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FONTES:

  • BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília, 2019.