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Publicado em
13/12/24

Colestase: o que é, sintomas e tratamento

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Colestase: o que é, sintomas e tratamento

A Colestase é um sintoma que pode estar presente como consequência de diversas condições que afetam o fígado e as vias biliares, e está diretamente relacionado à disfunção do fluxo fisiológico da bile. Vamos entender sua fisiopatologia, causas e principais métodos investigativos!

O que é a Colestase?

A colestase é definida como uma redução do fluxo biliar devido à secreção hepatocitária deficitária ou a obstrução nos ductos biliares intra ou extra-hepáticos. Dessa forma, há a retenção de diferentes elementos orgânicos que a compõem, como os sais biliares e a bilirrubina. Do ponto de vista histopatológico, a condição é determinada pela identificação de bile dentro dos elementos do fígado, geralmente acompanhada de dano celular secundário

Etiologia

A colestase pode ser classificada em dois grandes grupos com base no local da obstrução ou falha na secreção biliar: colestase intra-hepática e colestase extra-hepática. Veja abaixo:

Colestase Intra-hepática

Nesse caso, a falha ou obstrução ocorre dentro do fígado, seja devido a uma disfunção das células hepatócitos ou dos ductos biliares intra-hepáticos. Ela pode ser subdividida em colestase intra lobular e colestase intra lobular.

Colestase extra-hepática

Essa forma ocorre quando há uma obstrução dos ductos biliares extra-hepáticos. Esse tipo é frequentemente associado a doenças como cálculos biliares, tumores ou estenoses que bloqueiam o fluxo da bile em direção ao intestino.

COLESTASE EXTRA-HEPÁTICA
Coledocolitíase Colangiocarcinoma
Constrição biliar benigna Câncer de pâncreas ou periampular
Síndrome de Mirizzi Colangite esclerosante primária ou secundária
COLESTASE INTRA-HEPÁTICA
Causas hepatocelulares Hepatite viral
Hepatite alcoólica aguda
Nutrição parenteral
Atresia intra-hepática
Síndrome de Zellweger
Alterações de membrana canalicular Medicação (anticoncepcional oral, antibióticos, hormônios tireoidianos)
Colestase gravídica
Defeitos genéticos de transportadores de bile Colestase intra-hepática recorrente benigna (CIRB)
Colestase intra-hepática familiar progressiva (PFIC)
Obstrução de lúmen canalicular/ductal Colestase por Anemia Falciforme
Protoporfiria hereditária
Sepse
Fibrose cística
Causas Intra e Extra-hepáticas de Colestase. Fonte: EMR/Fernanda Vasconcelos

Sintomas de Colestase

A colestase pode se manifestar de diversas maneiras, variando de acordo com a causa subjacente e a gravidade do quadro. 

Icterícia

Icterícia cutânea e escleral. Fonte: Cleveland Clinic
Icterícia cutânea e escleral. Fonte: Cleveland Clinic

Um dos primeiros sinais observados na maioria dos pacientes é a icterícia, que pode ser inicialmente escleral e, à medida que os níveis de bilirrubina aumentam, evolui para cutânea. A icterícia escleral pode ser visível com níveis de bilirrubina direta de 2 mg/dL, enquanto a icterícia cutânea ocorre quando esses níveis atingem 5 mg/dL ou mais. 

Prurido intenso

Dermatite por escoriações de prurido. Fonte: Primary Care Dermatology Society
Dermatite por escoriações de prurido. Fonte: Primary Care Dermatology Society

Outro sintoma comum é o prurido intenso, causado pela retenção de ácidos biliares no sangue. Em níveis elevados, os ácidos biliares podem provocar uma coceira tão intensa que os pacientes podem recorrer a mutilações cutâneas para tentar aliviar o desconforto. Esse sintoma tende a piorar ao longo do dia, com melhora pela manhã, quando os níveis de componentes biliares diminuem durante o jejum. 

Fadiga e xantoma

Sinal clínico de Xantoma. Fonte: Clínica Dermic
Sinal clínico de Xantoma. Fonte: Clínica Dermic

A fadiga é outro sintoma frequentemente observado atribuído a alterações neuroendócrinas e disfunções na neurotransmissão serotonérgica. Outro sinal clínico de cronicidade é o xantoma ao redor dos olhos, nas palmas das mãos e em outras áreas do corpo. A presença de xantomas é indicativa de acúmulo de colesterol ou outras substâncias lipídicas, que não são adequadamente excretadas devido à obstrução biliar.

Além disso, a colestase crônica pode levar à deficiência de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K), uma vez que a bile é necessária para a absorção dessas vitaminas. A deficiência de vitamina A pode afetar a visão, a de vitamina D pode levar a distúrbios ósseos, a de vitamina E pode causar problemas neurológicos e a de vitamina K pode resultar em discrasias sanguíneas.

Além dos sintomas gerais, a colestase pode se manifestar de maneira diferente, dependendo da sua causa. A presença de dor abdominal no quadrante superior direito antes do início da icterícia pode sugerir problemas como colelitíase e colecistite, que podem evoluir para complicações como a síndrome de Mirizzi

A febre associada à icterícia é sugestiva de colangite. Quando a icterícia se manifesta após uma cirurgia hepatobiliar, pode indicar lesão ou vazamento do ducto biliar. O histórico de uso de medicamentos, especialmente antibióticos, também pode estar relacionado à colestase medicamentosa.

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Como realizar o diagnóstico?

O diagnóstico de colestase envolve abordagens laboratoriais, radiológicas e, em casos específicos, histológicos, para determinar a causa subjacente da condição e diferenciar entre as várias formas de colestase hepática e obstrutiva. 

Avaliação Laboratorial

A investigação inicial começa com um painel de química hepática. A bilirrubina total e fracionada deve ser medida, com destaque para a bilirrubina direta, que estará elevada. Normalmente, mais de 50% da bilirrubina total é do tipo direta. Além disso, os níveis de fosfatase alcalina são geralmente elevados, podendo ser três vezes superiores ao limite superior da normalidade. 

A fosfatase alcalina é particularmente útil para detectar obstrução biliar. Já as transaminases (TGO/TGP) geralmente apresentam elevações moderadas ou normais, um indicativo de colestase puramente obstrutiva. A albumina sérica costuma estar normal, mas pode estar diminuída em casos de cirrose ou doença hepática crônica.

Em relação ao hemograma, a leucocitose é um achado comum na colangite, hepatite alcoólica ou neoplasias malignas. A anemia pode ser vista em casos de hemólise aguda grave, sendo necessário realizar a avaliação do esfregaço periférico e da contagem de reticulócitos para diferenciar de uma anemia crônica, que pode ocorrer em cirrose ou câncer. 

Avaliação Radiológica

A ultrassonografia abdominal é o primeiro exame de imagem a ser feito, pois é bom para identificar a dilatação dos ductos biliares e para distinguir as causas hepatocelulares de colestase. Caso a ultrassonografia mostra ductos biliares aumentados de diâmetro, exames adicionais como a colangiopancreatografia por ressonância magnética (CPRM) são indicados. Embora a tomografia computadorizada (TC) também seja útil, a ressonância magnética apresenta maior sensibilidade.

Biópsia Hepática

A biópsia hepática é especialmente útil em casos de colestase intrahepática. Ela permite a avaliação das alterações histológicas do fígado e pode ajudar a diferenciar entre diversas etiologias. Porém, é um exame mais invasivo e com risco de complicações. Dessa forma, é reservado para quando não houve o elucidamento necessário com os métodos não invasivos. 

Tratamento para a Colestase

O tratamento da colestase depende diretamente da causa subjacente que está causando o quadro e do tipo de colestase. Apesar disso, alguns parâmetros são utilizados de forma comum entre as colestases de diferentes etiologias. Um dos pilares do manejo é o uso de ácido ursodesoxicólico, que atua promovendo o fluxo biliar e reduzindo a toxicidade dos ácidos biliares acumulados, sendo especialmente eficaz em doenças como a colangite biliar primária. 

Além disso, a abordagem sintomática para prurido, um dos sintomas mais debilitantes, inclui o uso de colestiramina, rifampicina ou antagonistas do receptor opioide, como o naltrexone. Vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) também são suplementadas em casos de má absorção, prevenindo deficiências nutricionais e suas complicações. Para manejar uma das complicações como a osteoporose, inicia-se terapias com bisfosfonatos ou suplementos de cálcio e vitamina D.

Conclusão

Em conclusão, a colestase é o achado  de disfunção no fluxo biliar, seja por causas canaliculares ou hepatocitárias. Suas etiologias costumam ser divididas em grupos de condições intra e extra-hepáticas. O diagnóstico é principalmente composto pela combinação de métodos laboratoriais e de imagem, com foco na USG abdominal. Por fim, o tratamento depende diretamente da causa primária da colestase.

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