A bronquiolite viral aguda é a principal causa de hospitalização de crianças até 2 anos de vida, tendo seu pico de incidência em lactentes de 2 a 6 meses. A inflamação provocada pela doença, que atinge o trato respiratório inferior, é precedida de crepitações e/ou sibilos. Assim, a doença é definida como o primeiro episódio de sibilo na criança menor de 2 anos, que tem evidências de infecção viral no trato respiratório sem nenhuma outra explicação para o aparecimento do sibilo.
O que é bronquiolite viral aguda?
A bronquiolite viral aguda é caracterizada por uma inflamação dos brônquios de origem viral, causando inflamação das pequenas vias aéreas e obstrução intraluminal variável, sendo muitas vezes entendida como “o resfriado que desce”. É caracterizado por episódio de sibilância em pacientes com menos de 12 meses.
A incidência da BVA no 1º ano de vida é de 11%, caindo para cerca de 6% durante o 2º ano de vida. O pico de incidência ocorre entre 2 e 5 meses de idade. Nas crianças menores de 1 ano, o risco de hospitalização pela doença é de aproximadamente 2%.
O que causa bronquiolite viral aguda?
O principal agente etiológico responsável pela doença é o VSR (Vírus Sincicial Respiratório), que é um vírus sazonal e, em países tropicais como o Brasil, tem aumento do número de casos em épocas chuvosas e frias. A principal fonte de transmissão do vírus é por outro membro da família, na creche ou escola, e se dá através do contato direto com gotículas ou fômites.
O período de disseminação do vírus varia entre 3 e 8 dias, mas em lactentes mais jovens pode durar de 3 a 4 semanas. O contato primário com o vírus não vai dar ao indivíduo imunidade completa, portanto, as reinfecções são comuns ao longo da vida, mas tem menor impacto nas crianças mais velhas. Outros vírus também podem causar a bronquiolite aguda, como o rinovírus, parainfluenza, influenza, metapneumovírus, adenovírus, enterovírus e coronavírus.
Fisiopatologia
A bronquiolite viral aguda é causada por uma infecção nas células epiteliais dos bronquíolos terminais, causando inflamação. Células polimorfonucleares e macrófagos vão migrar para combater a infecção e provocar edema, secreção de muco e descamação celular, contribuindo para obstrução das vias aéreas e atelectasias.
Além disso, a inflamação vai provocar a contração do músculo liso, contribuindo também para a obstrução através da broncoconstrição. O calibre das vias aéreas do lactente é ainda muito estreito, a superfície de troca gasosa ainda não está plenamente desenvolvida e o mecanismo imunológico é pouco desenvolvido nos bebês, o que contribui para o quadro.
Fatores de risco
Até os 2 anos de idade, é estimado que toda criança tenha tido contato com pelo menos um dos agentes etiológicos causadores da bronquiolite. As crianças com maiores predisposição a desenvolver a doença possuem fatores de risco como:
- Prematuridade;
- Baixo peso ao nascer;
- Doença pulmonar crônica;
- Anomalias anatômicas do trato respiratório;
- Doenças cardíacas congênitas;
- Imunodeficiência;
- Doença neurológica;
- Convivência com muitas pessoas no domicílio;
- Irmãos mais velhos
- Ser fumante passivo.
Crianças que possuem 1 a 3 meses de idade estão na faixa etária com maior predisposição para o surgimento de sintomas graves da doença.
Sinais e sintomas da bronquiolite
Os principais sintomas que a criança com bronquiolite viral aguda vai apresentar são febre (entretanto, sua ausência não exclui diagnóstico), tosse seca (que persiste após melhora do quadro), sibilância e dificuldades respiratórias (taquipnéia, sibilos, crepitações, tempo de expiração prolongado, tiragens intercostais e subcostais, retração de fúrcula e batimento de asa de nariz). A taquipnéia é um sintoma importante e que indica infecção no trato respiratório inferior.
A história natural da doença se dá com um início de infecção das vias aéreas superiores (como rinorreia), tosse e febre baixa, evoluindo para o aparecimento de sintomas nas vias aéreas inferiores em 2 a 3 dias (dificuldade respiratória, obstrução brônquica e sibilos). A piora ocorre entre 3 e 5 dias e, após esse período, o paciente vai gradativamente apresentando melhora clínica.
É importante enfatizar que a bronquiolite viral aguda tem um quadro autolimitado, e a duração da doença vai depender da idade do paciente, da severidade do quadro e dos fatores de risco. Crianças que não precisam de hospitalização normalmente se recuperam em um período de aproximadamente 28 dias.
Em crianças menores de 6 meses (particularmente, em crianças menores que 12 semanas) e com outras comorbidades, a bronquiolite viral aguda pode persistir por mais tempo, podendo ser necessário uso de ventilação mecânica. A cianose é indicativa de hipóxia, e indica gravidade.
Diagnóstico
O diagnóstico da doença é clínico, assim, conhecer os sintomas e a história natural da doença é fundamental. Os exames de imagem não são necessários nem indicados para avaliar a bronquiolite, mas podem ser úteis em casos graves (piora súbita do quadro respiratório, doenças cardiopulmonares prévias), em que é preciso excluir outros possíveis diagnósticos diferenciais. A radiografia de tórax pode mostrar um quadro de atelectasia, infiltrado peribrônico e hiperinsuflação pulmonar. Da mesma forma, exames laboratoriais não têm indicação de rotina.
Saiba Mais:
- Pneumologia: O que é, residência médica e mercado de trabalho
- Residência em Pediatria: O que é, e mercado de trabalho
- Quais provas de residência médica possuem apenas a primeira etapa?
Como tratar a bronquiolite viral aguda?
O tratamento deve ser feito procurando deixar a criança calma (agitação e choro podem provocar piora do quadro respiratório). Se a criança apresentar hipertermia, é preciso ser tratada. A obstrução nasal e rinorreia devem ser tratados com lavagem nasal para melhora do desconforto respiratório e para evitar o comprometimento da mecânica ventilatória em crianças muito pequenas.
O uso de oxigênio precisa ser considerado, e deve ser administrado preferencialmente por uma cânula nasal. É necessário o monitoramento da saturação através da oximetria de pulso, visando manter em níveis superiores a 90%.
Corticoides e antibióticos não são recomendados para tratar crianças com bronquiolite viral aguda, e os broncodilatadores, apesar de serem bastante utilizados, precisam de evidências científicas para sustentar seus benefícios no tratamento. O uso de soluções salinas hipertônicas tem o objetivo de aumentar o clearance mucociliar do paciente, e são recomendadas.
Medidas de prevenção, através da imunização passiva, são efetivas para proteger populações de risco: a imunoglobulina endovenosa específica (IGEV-VSR) e o anticorpo monoclonal humanizado para VSR (palivizumabe) são utilizados para prevenção da infecção por VSR.
O palivizumabe é indicado para pacientes pediátricos com maiores riscos para desenvolver a doença grave ao contrair o vírus sincicial respiratório: crianças prematuras, portadoras de displasia broncopulmonar sintomática e cardiopatia congênita hemodinamicamente significativa em menores de dois anos de idade.
Complicações
Na maioria das crianças previamente hígidas, não há complicações para a bronquiolite viral aguda. Entretanto, em crianças menores de 3 meses, com doenças cardiopulmonares prévias e imunodeficiência, o risco de complicações se torna maior. As crianças com indicação de internamento são aquelas com desconforto respiratório moderado ou grave, apneia, hipoxemia, lactentes jovens, comorbidades, vulnerabilidade social e toxemia.
As complicações mais sérias são a apneia (principalmente em menores de dois meses e prematuros) e a parada respiratória. A necessidade de utilização da ventilação mecânica (como por exemplo, em caso de parada respiratória) pode provocar pneumomediastino e pneumotórax.
Outras complicações podem ser a pneumonia aspirativa e a hipoxemia. A desidratação também é uma complicação que pode ocorrer devido ao aumento da necessidade da ingesta líquida, justificado pela febre e taquipneia.
Entretanto, também por causa da taquipneia (frequência respiratória elevada associada a obstrução nasal aumenta o risco de aspiração para o trato respiratório) e da dificuldade respiratória (que pode ser associada a vômitos) há possibilidade da criança não ser capaz de se hidratar sozinha.
Nesses casos, pode ser preciso fazer a reposição de líquidos por via parenteral ou por sonda, para diminuir os riscos de broncoaspiração. É importante fazer a monitorização da ingesta líquida e do débito urinário da criança.
Uma vez que a doença tem um quadro autolimitado, a evolução é benigna e a criança normalmente não precisa de nenhuma intervenção. A necessidade de internação ocorre em aproximadamente de 1% a 2% dos casos, quando há dificuldade respiratória acentuada e outros fatores de risco associados.
Conclusão
A bronquiolite viral aguda é uma inflamação dos brônquios de origem viral, causando obstrução intraluminal variável, geralmente causada pelo VSR. Os principais sintomas são febre, tosse seca, sibilância, taquipneia, crepitações, tempo de expiração prolongado e sinais de desconforto respiratório. O tratamento é feito por meio de lavagem nasal, uso de oxigênio se necessário e de soluções salinas hipertônicas.
Leia mais:
- Síndrome gripal: epidemiologia, sintomas e tratamento
- Distúrbios respiratórios do recém-nascido: sintomas, principais etiologias e tratamento
- O Que É Asma, Quais Seus Sintomas, Tipos, Causas e Possíveis Tratamentos!
- Apneia do sono: o que é, diagnóstico e tratamento
- Infecção do Trato Respiratório Superior: Principais Sintomas e Como Fazer o Diagnóstico
FONTES:
- Tratado de Pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria, 4ª edição, Barueri, SP: Manole, 2017
- PIEDRA, Pedro A. STARK, Ann R. Bronchiolitis in infants and children: Clinical features and diagnosis. UpToDate
- PIEDRA, Pedro A. STARK, Ann R. Bronchiolitis in infants and children: Treatment, outcome, and prevention. UpToDate
- AMANTÉA, Sérgio. USP. BRONQUIOLITE VIRAL AGUDA