A artrite reumatoide (AR) é uma doença autoimune sistêmica e crônica que acomete as articulações. Estima-se que sua prevalência mundial seja de 0,24%, sendo maior na Europa, América do Norte e em outras regiões com pessoas de ascendência europeia. Além disso, também é mais comum em mulheres, com pico de incidência na 4ª e 6ª década de vida.
Neste post iremos abordar o que é artrite reumatoide, seu quadro clínico e tratamento!
O que é a artrite reumatoide?
A artrite reumatoide é uma doença reumatológica autoimune que acomete, principalmente, as articulações, mas também causa manifestações extra-articulares. É uma doença inflamatória crônica, causada pela interação de fatores genéticos e ambientais. Ela acomete principalmente pequenas articulações sinoviais periféricas, como punho, mão e tornozelo, de forma simétrica, podendo progredir para articulações proximais.
O que causa a artrite reumatoide?
A artrite reumatoide é causada por uma interação entre fatores genéticos e fatores ambientais. A base genética é significativa, tendo uma herdabilidade de aproximadamente 40% a 65% para artrite reumatoide soropositiva e 20% para artrite reumatoide soronegativa.
Os genes mais associados ao maior risco são os alelos HLA-DBR1: 01, 04 e 10. Além disso, alguns polimorfismos em outros genes estão associados também à doença, como o PAD 14, PTPN22, CTLA 4, IL-2RA, STAT4, TRAF1, CCR6 e IRF5.
A presença de autoanticorpos também aumenta a probabilidade de desenvolver a doença. Os anticorpos FR (fator reumatoide) e anti-CCP são os autoanticorpos mais conhecidos, mas vários outros são relativamente específicos para o problema. A presença de anticorpos na artrite reumatoide é referida como AR soropositiva.
Em relação aos fatores ambientais, o principal fator de risco é o tabagismo. Outros desencadeantes ambientais que podem desempenhar um papel como desencadeadores, mais intimamente associada à AR soropositiva, são exposição à sílica, amianto, pó têxtil e a bactéria Porphyromonas gingivalis (ligada à doença periodontal). A obesidade também é um fator de risco bem estabelecido.
Fisiopatologia
A artrite geralmente é desencadeada por algum gatilho ambiental em um paciente geneticamente susceptível, gerando uma resposta imunológica.
Então, a membrana sinovial das articulações periféricas se torna inflamada e ocorre uma neoformação vascular e invasão de células inflamatórias e autoimunes, formando o tecido pannus, formado por linfócitos T, TCD4, B e células dendríticas. A inflamação das articulações ao longo do tempo leva à destruição da articulação com perda de cartilagem e erosões ósseas.
Quais os sintomas da artrite reumatoide?
Os sintomas mais comuns são dor e edema nas articulações, principalmente das mãos, punhos e tornozelos. Geralmente, se inicia de forma insidiosa. Associado a isso, normalmente ocorre rigidez, principalmente matinal. Sem tratamento, os pacientes evoluem com lesões articulares, deformidades e incapacidades. Podem ocorrer também manifestações gerais inespecíficas com febre, mal-estar e emagrecimento.
É um quadro caracterizado por dor progressiva, graves limitações funcionais e comprometimento da qualidade de vida. Embora múltiplos envolvimentos articulares pequenos sejam uma característica frequente, alguns pacientes podem apresentar envolvimento monoarticular e extra-articular (pulmões). A doença com duração dos sintomas inferior a seis meses é definida como AR precoce, e quando os sintomas estão presentes há mais de seis meses, é definida como AR estabelecida.
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No exame físico, a articulação afetada ficará dolorida, principalmente a palpação ou movimento, podendo ter edema articular. Normalmente, não há calor e eritema. A força de preensão pode estar diminuída, com achados clássicos de desvio ulnar, subluxação da articulação metacarpofalângica, deformidade em pescoço de cisne e deformidade em boteira, doença crônica avançada. Nos pés, hálux valgo é comum, assim como outras deformidades nos dedos dos pés.
Das manifestações extra-articulares, a mais comum são os nódulos reumatoides, comumente encontrados em pontos de pressão. A doença pulmonar intersticial (DPI) afeta de 5% a 16% dos pacientes e está associada a autoanticorpos específicos para esse tipo de artrite e aumento da mortalidade. Pode ter também acometimento oftalmológico, com ceratoconjuntivite seca, episclerite, esclerite e nódulos da coróide e da retina.
Diagnóstico
Os exames laboratoriais frequentemente revelam anemia de doença crônica e trombocitose. O fator reumatoide está presente em 80% a 90% dos casos e o anti-CCP em 70% a 80%. A presença de fator reumatóide não é diagnóstico de artrite reumatóide, podendo estar presente em outras doenças do tecido conjuntivo. Já o anti-CCP é mais específico.
Os reagentes de fase aguda, como a velocidade de hemossedimentação (VHS) e os níveis de proteína C reativa (PCR), geralmente estão elevados em pacientes com doença ativa e devem ser obtidos e podem ser usados para avaliar a atividade da doença no acompanhamento dos pacientes.
O exame do líquido sinovial geralmente revela uma contagem de leucócitos entre 1.500 a 25.000/mm3 e é predominantemente de células polimorfonucleares. Contagens de células superiores a 25.000/mm3 são raras e podem ser observadas com a doença muito ativa; no entanto, eles justificam uma investigação para descartar infecção subjacente.
O líquido sinovial dos indivíduos com diagnóstico positivo também revelará níveis baixos de C3 e C4, apesar dos níveis séricos elevados. Com a doença avançada, o envolvimento articular nas radiografias revelará osteopenia periarticular, estreitamento do espaço articular e erosões ósseas (marginais).
Os critérios diagnósticos do Colégio Americano de Reumatologia incluem 7 critérios. Os critérios de 1 a 4 devem ocorrer durante pelo menos seis semanas, e quatro dos sete critérios são necessários para classificar um paciente como portador da doença. São eles:
- Rigidez matinal de duração de pelo menos 1 hora;
- Artrite de 3 ou mais áreas articulares com edema;
- Artrite das articulações das mãos;
- Artrite simétrica;
- Nódulos reumatóides;
- Fator reumatoide sérico; e
- Alterações radiográficas (erosões ou descalcificações localizadas em radiografias de mãos e pés).
Para mais, existem os critérios do ACR/EULAR. Uma pontuação maior ou igual a 6 classifica definitivamente como artrite reumatoide.
Como tratar a artrite reumatoide?
O objetivo principal do tratamento é alcançar a remissão clínica ou baixa atividade a longo prazo e otimizar a qualidade de vida com a ausência de sinais e sintomas associados à atividade da doença inflamatória.
A principal medicação são os medicamentos anti-reumáticos modificadores da doença (DMARDs): metotrexato (primeira escolha), hidroxicloroquina, sulfassalazina e leflunomida. Em casos que não respondam aos DMARDs, pode-se utilizar também os agentes biológicos, como influximabe, adalimumabe e rituximabe.
Para controle da dor, podem ser feitos analgésicos simples, anti-inflamatórios e, em casos especiais, opioides. Ademais, é essencial fisioterapia e terapia ocupacional para preservação e recuperação de capacidade funcional. O profissional da saúde mental também é importante, pois há depressão em muitos casos. Em casos mais graves e específicos, cirurgia pode ser necessária.
Inicialmente, recomenda-se mensalmente avaliação clínica e laboratorial. Após controle da doença, recomenda-se a cada 2 a 3 meses, para monitorização de resposta ao tratamento.
Conclusão
A artrite reumatoide é uma doença reumatológica sistêmica e crônica, que acomete as articulações periféricas inicialmente, podendo progredir para demais articulações se não tratada. É caracterizado por dor articular, edema e diminuição de movimento. O tratamento deve ser feito com metotrexato ou alguma outra medicação modificadora de doença, além de fisioterapia e controle de dor.
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FONTE:
- CHAUHAN, K; et. al. Rheumatoid Arthritis - StatPearls - NCBI Bookshelf