O consumo excessivo de drogas, álcool e medicamentos tem efeitos devastadores para a saúde física e mental dos indivíduos, além de impactar negativamente as relações sociais e econômicas. O abuso de substâncias é uma condição complexa que requer preparo para avaliação, diagnóstico e tratamento adequados. Além disso, é de suma importância para a área de psiquiatria dentro das provas de residência médica. Vamos revisar os conceitos?
O que é o abuso de substâncias?
O abuso de substâncias é definido como o consumo problemático e prejudicial de substâncias psicoativas de maneira autoadministrada, desviando dos padrões médicos e dos aceitos na sociedade. Essas substâncias podem ser o álcool, tabaco, medicamentos prescritos, e drogas ilícitas, como maconha, cocaína, anfetaminas, entre outras. Dentro disso, existem outras terminologias para explicar esse tipo de transtorno, como:
- Dependência comportamental: se refere a um envolvimento excessivo em atividades prejudiciais à saúde que geram um padrão constante de repetição delas em busca da sensação de gratificação imediata e prazer temporário;
- Dependência física: se refere aos efeitos fisiológicos de múltiplos episódios de uso da substância;Dependência psicológica: caracteriza-se por uma fissura, ou seja, desejo intenso seja ele contínuo ou episódico, por uma substância para evitar algum estado de mal-estar, seja ele por ansiedade, depressão ou algum desconforto mais subjetivo.
Quais são as categorias estabelecidas para o diagnóstico?
Existem quatro categorias diagnósticas de acordo com o DSM-5 , sendo eles: (1) Transtorno por uso de substância (2); Intoxicação por uso de substância (3); Abstinência de substância (4); Transtorno mental induzido por substância. Abaixo iremos destrinchar as definições, quadro sintomatológico e critérios diagnósticos de cada uma delas:
Transtorno por uso de substância
Esse termo é aplicado com o uso de uma substância específica (ex: transtorno por uso de álcool, transtorno por uso de anfetaminas) e que vêm do seu uso por longos períodos de tempo. A definição exata para diagnóstico é: um padrão problemático de uso da substância que gera comprometimento ou sofrimento que impacta na clínica do paciente, com pelo menos 2 dos critérios a seguir, que vêm ocorrendo por no mínimo 12 meses:
- Uso recorrente da substância, ocasionando perdas de funções no trabalho, na escola ou na vida pessoal. Exemplo: faltas no trabalho/escola ou baixo desempenho em atividades relacionados ao uso da substância, negligência de filhos e afazeres domésticos);
- Uso recorrente da substância em circunstâncias que apresentam risco à integridade física. Exemplo: dirigir veículos ou operar máquinas;
- Uso continuado da substância mesmo com prejuízos sociais e afetivos relacionados ao seu uso abusivo. Exemplo: discussões com pais e cônjuges sobre as consequências da intoxicação, violências verbais e físicas;
- Tolerância, definida por necessidade de quantidades progressivamente maiores para obtenção do mesmo efeito ou esse efeito diminuindo continuamente com o uso de uma mesma dosagem;
- Abstinência, seja ela pela Síndrome da Abstinência de cada substância ou pelo uso da substância para aliviar ou evitar sintomas de abstinência;
- Uso sempre mais prolongado ou em maior quantidade do que planejado;
- Episódios de fracasso ao tentar cessar ou diminuir o consumo ou apenas a vontade de cessar/reduzir o uso nunca posta em prática;
- Muito tempo gasto na obtenção, no uso ou na recuperação dos efeitos da substância;
- Abandono de atividades importantes, seja de lazer ou profissional;
- Uso da substância mesmo tendo a consciência de ter algum problema psicológico ou físico causado ou exacerbado pelo seu uso;
- Fissura ou forte desejo de usar uma substância específica.
DICA DE PROVA
O conceito de fissura e desejo exacerbado muito provavelmente virá na sua prova como "Craving", que é o termo inglês muito utilizado de mesmo significado.
Apesar dessa definição ampla e generalista, substâncias aditivas contam com uma tabela do DSM-5 específica para elas, como a de consumo de Álcool vista abaixo:
DICA DE PROVA
Lembre-se que apesar de estudarmos como um conjunto, a sintomatologia do transtorno por abuso de substâncias será específica de cada droga, por seus efeitos característicos físicos e psíquicos.
Intoxicação por Substância
Esse conceito é o diagnóstico usado ao descrever uma síndrome vista pelo quadro clínico que dependerá das características de cada substância por um consumo recente. Complementa-se isso com as seguintes definições:
- Desenvolvimento de uma síndrome reversível específica da substância a qual teve contato recente.
- Mudanças comportamentais ou psicológicas vistas em um quadro clínico secundário aos efeitos de uma substância no sistema nervoso durante ou logo após sua ingestão.
- Sintomas não atribuídos a outras condições de saúde portadas pelo paciente, principalmente pelos transtornos mentais.
Abstinência de Substância
Esse é um diagnóstico que descreve uma síndrome específica que resulta da interrupção abrupta do uso frequente e prolongado de uma droga. Para sua confirmação, são necessários os seguintes critérios:
- Desenvolvimento de uma síndrome específica da substância que ocorra após a redução ou parada do consumo que previamente ocorria de forma intensa e por um longo período de tempo.
- Há o sofrimento causado pela síndrome clínica que se instalou após a redução ou o fim do uso de uma certa substância, causando prejuízo funcional pessoal, social e profissional.
- Sintomas não atribuídos a outras condições de saúde portadas pelo paciente, principalmente pelos transtornos mentais.
Tratamentos para o abuso de substâncias
O manejo do abuso de substâncias é variado e abrangente, dependendo do tipo de substância, da gravidade do problema e das especificidades de cada paciente. Geralmente, o tratamento envolve um trabalho multidisciplinar que combina intervenções médicas, terapia comportamental e suporte psicossocial. Alguns dos diversos elementos possíveis estão elencados abaixo:
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Desintoxicação
Utilizada em casos de dependência física, a desintoxicação é o primeiro passo para retirar a substância do corpo do indivíduo de forma segura, geralmente com supervisão médica para gerenciar os sintomas de abstinência. Só é utilizada em fase terapêutica inicial e por um curto período.
Medicamentos
A depender das substâncias de abuso, haverão medicamentos de efeito central para o controle da fissura e impulsos para cada um dos casos. Por exemplo, a Metadona, Buprenorfina e Naltrexona podem ser usados em casos de uso abusivo de opióides.
Psicoterapias
Diversas abordagens se mostram favoráveis dentro do trabalho da psicologia, como a Terapia Cognitivo-comportamental (TCC), terapia de grupo e terapia familiar para fortalecimento da rede de apoio durante esse processo terapêutico que depende intrinsecamente de suporte externo.
Programas de Apoio
Diversas são as opções de grupos de apoio voltados para a recuperação dos pacientes, que se baseia na formação de uma comunidade em que há o compartilhamento de experiências, identificações, motivações e percepções positivas. Exemplos desses são os Alcoólicos Anônimos (AA) e os Narcóticos Anônimos (NA).
Vale frisar que o tratamento de abuso de substâncias é extremamente personalizado e contínuo e, mesmo após a desintoxicação e recuperação do paciente, o controle para evitar gatilhos deve ser constante e, frequentemente, para o resto de sua vida. O apoio contínuo e o acompanhamento, tanto médico quanto familiar e social, são essenciais para manter a sobriedade e promover uma vida saudável e produtiva.
Conclusão
O abuso de substâncias é uma condição severa no ramo da psiquiatria que necessita uma avaliação detalhada para a abordagem correta e efetiva, visto que causa enormes prejuízos para a vida do dependente e da sua rede de apoio, podendo até gerar a terminalidade da vida do usuário.
Vamos revisar mais uma vez os principais conceitos de ABUSO DE SUBSTÂNCIAS em uma videoaula:
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Fontes:
- Definição - Transtornos por uso de álcool no adulto
- (APA), American Psychiatric A. DSM-5. Disponível em: Minha Biblioteca, (5th edição). Grupo A, 2016.
- Sadock, Benjamin, J. et al. Compêndio de psiquiatria. Disponível em: Minha Biblioteca, (11th edição). Grupo A, 2017.
- Dependência Química: Quais são os tipos de tratamento | International Society of Substance Use Professionals