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Publicado em
8/2/25

Colite pseudomembranosa: o que é, sintomas e como tratar

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Colite pseudomembranosa: o que é, sintomas e como tratar

A colite pseudomembranosa é uma condição inflamatória intestinal grave, geralmente associada ao uso de antibacterianos que alteram a microbiota colônica normal. Essa doença está intimamente relacionada à infecção pelo Clostridioides difficile, um patógeno oportunista capaz de produzir toxinas que desencadeiam inflamação e necrose do epitélio intestinal. 

Com o aumento do uso de antibióticos e a disseminação de cepas altamente virulentas, a colite pseudomembranosa tornou-se um problema significativo de saúde pública, exigindo um alto índice de suspeição para seu diagnóstico e tratamento precoce.

O que é a colite pseudomembranosa?

A colite pseudomembranosa é uma forma severa de colite causada pela proliferação descontrolada do C. difficile, que ocorre devido à alteração da microbiota intestinal, geralmente após o uso de antibióticos. A doença caracteriza-se pela formação de pseudomembranas na mucosa do cólon, compostas por fibrina, leucócitos, detritos celulares e muco. Os pacientes mais vulneráveis incluem idosos, imunossuprimidos, hospitalizados, portadores de doenças inflamatórias intestinais e aqueles submetidos a terapia antibacteriana recente.

Fisiopatologia

A fisiopatologia da colite pseudomembranosa é caracterizada pela proliferação exacerbada do Clostridioides difficile no cólon, favorecida pela disbiose intestinal causada pelo uso de antibióticos, sendo a clindamicina o principal antibiótico responsável. 

Esse microrganismo produz duas toxinas principais: a toxina A, uma enterotoxina que aumenta a permeabilidade do epitélio intestinal e provoca intensa resposta inflamatória, e a toxina B, uma citotoxina que promove necrose celular, levando à destruição das células epiteliais e à formação das pseudomembranas.

A ação combinada dessas toxinas desencadeia um processo inflamatório intenso, resultando em edema, ulceração da mucosa e exsudação de proteínas plasmáticas. Além disso, ocorre um recrutamento massivo de neutrófilos e a liberação de citocinas pró-inflamatórias, exacerbando o quadro inflamatório e contribuindo para a destruição da barreira epitelial. Em casos graves, essa cascata inflamatória pode levar a complicações severas, como megacólon tóxico, perfuração intestinal e sepse, aumentando significativamente a morbimortalidade associada à doença.

Sintomas da colite pseudomembranosa

Os sinais clínicos da colite pseudomembranosa podem variar de sintomas leves a manifestações graves com risco de complicações fatais. O sintoma mais característico é a diarreia profusa e aquosa, que pode conter sangue ou muco, resultando em um quadro de desidratação progressiva. Essa diarreia geralmente se inicia após o uso de antibióticos e pode ser acompanhada por dor abdominal difusa e cólicas intensas, que ocorrem devido ao processo inflamatório da mucosa colônica. Além disso, a febre de intensidade variável pode estar presente, sendo mais comum nos casos mais severos da infecção. 

Laboratorialmente, observa-se leucocitose expressiva, um marcador inflamatório importante que auxilia na suspeita diagnóstica. A progressão da doença pode levar à desidratação significativa e distúrbios eletrolíticos, resultando em sintomas sistêmicos, como fadiga, hipotensão e taquicardia. Podemos classificar a gravidade da colite pseudomembranosa conforme a tabela abaixo:

Classificação Características
Colite não grave Diarreia ≥ 3 episódios, com ou sem muco/sangue E leucócitos ≤ 15.000 e creatinina < 1,5 mg/dl
Colite grave Diarreia associada a dor/distensão abdominal, febre, hipoalbuminemia, elevação do lactato e leucocitose > 15.000 ou creatinina ≥ 1,5 mg/dl
Colite fulminante Hipotensão grave, choque, falência orgânica ou megacólon

A evolução para a colite fulminante com megacólon tóxico é uma das complicações mais temidas, levando ao risco aumentado de perfuração intestinal, peritonite e choque séptico. O megacólon tóxico é caracterizado por dilatação do intestino grosso com > 7 cm de diâmetro no cólon e/ou > 12 cm de diâmetro no ceco. Esse quadro grave requer intervenção imediata, pois pode evoluir rapidamente para falência orgânica múltipla e óbito se não tratado de forma adequada.

Diagnóstico

Mucosa de sigmoide com espessa camada de fibrina (pseudomembranas) entremeada por mucosa de aspecto normal. Fonte: Revista Médica de Minas Gerais 
Mucosa de sigmoide com espessa camada de fibrina (pseudomembranas) entremeada por mucosa de aspecto normal. Fonte: Revista Médica de Minas Gerais 

O diagnóstico da colite pseudomembranosa baseia-se em uma combinação de critérios clínicos, laboratoriais e de imagem. A suspeita clínica deve ser levantada em pacientes com diarréia persistente associada ao uso recente de antibióticos

O exame laboratorial mais utilizado é a pesquisa de toxinas A e B do C. difficile por meio do teste ELISA, que permite a detecção direta dessas proteínas na amostra de fezes. A PCR para C. difficile tem alta sensibilidade e especificidade, identificando a presença dos genes das toxinas bacterianas e auxiliando na confirmação diagnóstica. A coprocultura, embora seja o padrão-ouro para isolamento do C. difficile, tem aplicação clínica limitada devido ao tempo prolongado necessário para obtenção do resultado.

A colonoscopia ou sigmoidoscopia pode ser utilizada em casos duvidosos ou quando se deseja avaliar a extensão da lesão colônica, permitindo a visualização direta das pseudomembranas amareladas aderidas à mucosa intestinal. Para pacientes graves, a tomografia computadorizada de abdome é um exame complementar útil para avaliar complicações, como megacólon tóxico, espessamento da parede colônica e dilatação intestinal.

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Como tratar a colite pseudomembranosa?

O tratamento deve ser instituído de forma imediata para evitar complicações graves. O primeiro passo é a interrupção do antibiótico desencadeante, sempre que possível, permitindo a recuperação da microbiota intestinal.A terapia antibacteriana direcionada é fundamental e varia de acordo com a gravidade do quadro clínico. Para casos leves a moderados, o metronidazol oral é frequentemente utilizado, enquanto para casos moderados a graves, a vancomicina oral é a droga de escolha, devido à sua eficácia superior. Em infecções recorrentes, alternativas como a fidaxomicina podem ser consideradas, além do transplante de microbiota fecal, que tem mostrado excelentes resultados na restauração do equilíbrio da flora intestinal.Medidas de suporte são essenciais, incluindo reposição volêmica para evitar desidratação, correção de distúrbios eletrolíticos e suporte nutricional adequado. Em situações mais graves, como megacólon tóxico, perfuração intestinal ou falha do tratamento clínico, a abordagem cirúrgica com colectomia subtotal pode ser necessária para evitar desfechos fatais.

Conclusão

A colite pseudomembranosa é uma doença grave e potencialmente fatal, frequentemente associada ao uso inadequado de antibióticos. A suspeita clínica deve ser elevada em pacientes hospitalizados com diarreia persistente. O manejo adequado inclui diagnóstico rápido, tratamento direcionado e prevenção da recorrência. Medidas de controle, como restrição do uso de antibacterianos e rigorosas práticas de higiene hospitalar, são essenciais para conter a disseminação da doença.

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