A otite externa aguda (OEA) é uma inflamação comum do canal auditivo externo, mais comum em nadadores e mais prevalente em crianças e adolescentes. Seu risco aumenta com a retenção de água no ouvido, uso de dispositivos auditivos e condições dermatológicas como eczema. Pessoas com sistema imunológico comprometido têm maior risco de evoluir para formas graves da doença. Vamos relembrar os principais aspectos clínicos da condição
O que é a Otite Externa Aguda?
A otite externa aguda é uma inflamação do canal auditivo externo, caracterizada por sua duração relativamente curta, tipicamente durando menos de seis semanas. O risco de desenvolver este tipo de otite aumenta quando há retenção de água no ouvido, o que pode criar um ambiente propenso ao crescimento de microrganismos. Ela é frequentemente referida como "ouvido de nadador" devido à sua alta incidência em nadadores.
Classificação
A otite externa aguda pode ser dividida em diferentes categorias, com base na gravidade e na origem da infecção:
Etiologia
A otite externa aguda pode ser causada por uma variedade de microrganismos e fatores predisponentes. A maioria dos casos é atribuída a infecções bacterianas, sendo os agentes mais comuns as Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus. Em alguns casos, a infecção pode ser polimicrobiana.
A infecção também pode resultar de infecções fúngicas, chamadas de otomicose. Essa condição é geralmente causada por Aspergillus (90% dos casos), embora Candida e outros fungos também possam a causar. A otomicose pode ocorrer após tratamento intenso com antibióticos tópicos ou surgir devido à umidade retida no canal auditivo externo. Em casos graves, pode ocorrer estenose do tecido mole e mudanças celulares que afetam a concha da aurícula e o trago.
Condições dermatológicas como eczema, psoríase e dermatite seborreica também podem predispor ao desenvolvimento de otite externa aguda. Essas condições podem causar inflamação e irritação do canal auditivo, criando um ambiente propenso a infecções. A otite externa eczematosa (ou psoriática) pode ocorrer puramente pela doença ou pelo contato com substâncias irritantes, como brincos ou aparelhos auditivos.
Sintomas da Otite Externa Aguda
A OEA pode se manifestar com uma variedade de sintomas, dependendo da gravidade e estágio da doença. O sintoma mais comum é o prurido intenso que surge no início da infecção. A otalgia também faz parte das manifestações clínicas, e pode variar de intensidade, piorando à manipulação do trago ou da aurícula. Essa dor é frequentemente desproporcional aos achados no exame físico, já que vem da irritação do periósteo sensível do canal auditivo ósseo.
Além do prurido e da dor, os pacientes apresentam otorréia clara e inodora que evolui para purulenta e com um odor fétido. A sensação de pressão no ouvido é comum e pode ser acompanhada por perda auditiva, edema e obstrução do canal auditivo. O tinnitus pode estar presente em alguns casos, embora não seja um sintoma tão comum.
Em situações mais graves, sintomas sistêmicos como febre superior a 38,3°C e mal-estar podem surgir, indicando uma possível disseminação da infecção para outra localização. A gravidade da otite externa aguda pode ser classificada em três níveis: leve - com prurido e desconforto leve; moderada - com obstrução parcial do canal auditivo; e grave - com obstrução completa do canal auditivo por edema grave, otalgia intensa, linfadenopatia e febre.
Além dos sintomas mais vistos, a dor profunda grave em pacientes imunocomprometidos ou diabéticos pode indicar a presença de otite externa necrotizante, uma forma grave e maligna da doença.
Veja também:
- Rotina da residência médica em Otorrinolaringologia no IMIP: saiba como é
- Residência médica em Otorrinolaringologia: Rotina, Remuneração e Áreas de Atuação
- Residência médica: Como não esquecer o que estudou para a prova
Como realizar o diagnóstico?
O diagnóstico de otite externa aguda é predominantemente clínico, baseado em uma avaliação da história médica e exame físico do paciente, assim como fatores de risco que falem a favor do seu diagnóstico. Na maioria dos casos não complicados, testes laboratoriais de rotina e culturas do canal auditivo não são necessários ou indicados.
Durante o exame físico, é fundamental a inspeção e palpação da aurícula e da pele ao redor, bem como a realização de otoscopia. A otoscopia revela um canal auditivo vermelho e edematoso, frequentemente acompanhado de secreção que pode variar de amarelada a cinza. Em alguns casos, a membrana timpânica pode parecer avermelhada. Se houver evidências de nível de ar e fluido ao longo da membrana timpânica, pode-se suspeitar de otite média concomitante.
Qual o tratamento da Otite Externa Aguda?
O tratamento da otite externa aguda é geralmente realizado em regime extra-hospitalar, com a maior parte dos pacientes respondendo bem a antibiótico tópico e sintomáticos.
No controle da otalgia, analgésicos comuns como Dipirona ou anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) geralmente são eficazes para dor leve a moderada. Em casos de dor intensa, opióides como Oxicodona ou Hidrocodona podem ser prescritos, mas devem ser usados com cuidado e por um período curto de tempo, já que os sintomas melhoram de maneira considerável dentro de 48 horas após o início do antibiótico tópico.
Os antibióticos tópicos são a base do tratamento para otite externa aguda. Entre os mais comuns estão: Polimixina B, Neomicina, Ofloxacina e Ciprofloxacina com Hidrocortisona. A associação com corticosteróides reduz a inflamação e as secreções, acelerando o alívio da dor. A terapia tópica deve ser prescrita por 7-10 dias.
A limpeza do canal auditivo é recomendada, porém deve ser realizada com cuidado, apenas se não houver sinais de perfuração da membrana timpânica e deve ser evitada em pacientes com histórico de diabetes pelo risco de induzir otite externa maligna. A técnica envolve remoção de excesso de secreção com pequena cureta plástica, própria para esse procedimento.
Antibióticos orais geralmente não são necessários para a OE não complicada. Porém, são indicados para pacientes com comorbidades como diabetes, HIV/AIDS, ou em casos de OE maligna ou otite média concomitante. Antifúngicos tópicos não são de primeira linha, sendo recomendados somente se a etiologia fúngica for confirmada por exame otoscópico.
Conclusão
A otite externa aguda é uma infecção do meato acústico externo, geralmente autolimitada e relativamente comum em crianças e adolescentes. Seu diagnóstico é clínico e se dá pela coleta da história com sintomatologia e otoscopia, que evidencia sinais flogísticos locais. O tratamento é relativamente simples e é composto de antibiótico tópico e sintomáticos orais.
Leia Mais:
- O que é Rinossinusite Crônica, como diagnosticar e possíveis tratamentos
- Sinusite aguda: causas, sintomas e tratamento
- Rinite alérgica: causa, sintomas e tratamento
- Apneia do sono: o que é, diagnóstico e tratamento
- Tonturas e vertigens: diferentes etiologias e como examinar
FONTES:
- Ariel A Waitzman, M. (2024, March 5). Otitis externa. Practice Essentials, Background, Anatomy.
- Medina-Blasini Y, Sharman T. Otitis Externa. [Updated 2023 Jul 31]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2024 Jan-.